Ecocardiograma Fetal

Há não muito tempo era frequente o não acompanhamento pré-natal. Era comum a consulta de confirmação de gravidez ser a única vez que a gestante visitava o médico antes do parto. Essa situação hoje é impensável. Com a evolução da medicina e o maior acesso à informação vemos cada vez mais mulheres procurando orientações mesmo antes da concepção, e o seguimento mensal da gravidez já está bem fundamentado na população. Esses cuidados reduziram drasticamente os índices de mortalidade materno e infantil propiciando maior segurança tanto para as mulheres como para o bebê. O maior conhecimento dos fatores de risco e o incremento de métodos diagnósticos, principalmente da ultrassonografia, permitem prevenir, antever e tratar diversas afecções, que em um passado não muito distante, levavam a complicações variadas, muitas delas fatais. E é sobre um desses métodos diagnóstico que se baseia nosso artigo de hoje.

Foto: Lisa Setrini
Foto: Lisa Setrini

Ecocardiograma Fetal

As cardiopatias congênitas são doenças frequentes, acometendo oito a cada 1000 nascimentos, sendo que muitas são extremamente graves e exigem tratamento imediato e em centros especializados. Desse modo o diagnóstico dessas afecções na vida intrauterina é ferramenta importante para melhorar o prognóstico desses bebês, pois assim conseguimos programar o parto para um hospital onde tenha uma UTI neonatal habituada ao manejo dessas crianças além de estrutura para procedimentos cirúrgicos e hemodinâmicos nessa faixa etária, evitando assim a necessidade de transferência hospitalar, que é um fator de piora para o prognóstico.

Há também as cardiopatias que comprometem o bom desenvolvimento fetal colocando em risco a vida do feto, nessas o diagnóstico preciso auxilia na decisão terapêutica imediata. Hoje, muitos tratamentos podem ser realizados intra-útero, seja por abordagem direta do coração fetal ou através de medicações que, administrada a mãe chegam ao feto pela circulação placentária. Por esses motivos o ecocardiograma fetal é recurso indispensável para o bom acompanhamento pré-natal.

Quando fazer o ecocardiograma fetal?

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Em alguns centros o ecocardiograma fetal é um exame de rotina solicitado pelo obstetra independente de fatores de risco maternos ou fetais. Apesar de considerarmos essa a conduta mais prudente, uma vez que há cardiopatias em fetos sem fatores de risco, a indicação do exame segue alguns critérios.

A melhor idade para a realização do exame é entre a 26° e 28° semana de gestação. Nessa fase o bebê já está bem formado e a janela ecocardiográfica é excelente. Nos períodos mais tardios o exame pode ser realizado, mas é prejudicado pela maior calcificação das estruturas ósseas do feto. Em situações potencialmente graves como arritmias ou defeitos estruturais que comprometem a viabilidade do feto o exame deve ser indicado mais precocemente, a partir da 12° semana já possível realizar o ecocardiograma fetal pela via transvaginal.

As indicações para realização do ecocardiograma fetal baseiam-se no risco de cardiopatia em certos grupos, a saber:

  • Gestante com mais de 35 anos – estaticamente essas mães têm maior probabilidade de malformações fetais e cardiopatia.
  • História familiar – Filhos de pais com cardiopatias congenitas têm 10% de chance de nascerem cardiopatas, no caso de irmãos 2%.
  • Uso de medicações pela mãe – há medicações que podem causar malformações cardíacas, nesse grupo destacam-se os anticonvulsivantes, o lítio e os anti-inflamatórios.
  • Malformações extra-cardíacas – caso o ultrassom morfológico mostre malformações de outros órgãos ou alteração de translucência nucal e artéria umbilical única, o ecocardiograma fetal é indicado.
  • Suspeita de cardiopatia – o ultrassonografista avalia o coração fetal em todos os exames durante o pré-natal. Caso haja dificuldade de definir a anatomia cardíaca ou for levantada a hipótese de cardiopatia o coração deve ser investigado pelo especialista.
  • Doenças maternas – doenças que acometem a mãe podem levar a cardiopatias. As mais comuns são a diabetes tipo I; a rubéola e o Lúpus.
  • Hidropsia fetal – é sinal de sofrimento fetal, e deve ser descartada causa cardíaca.
  • Arritmias fetais – podem ser bradicardias, quando o coração bate mais devagar, ou taquicardias, que é um aumento da frequência cardíaca. São doenças potencialmente graves e que possibilitam o tratamento intrauterino, portanto devem ser avaliadas independente da idade gestacional.

 

Concluindo, o ecocardiograma fetal é ferramenta aliada para melhorar a viabilidade do feto. O diagnóstico precoce das cardiopatias, possibilita a programação e a pronta ação, aumentando, significativamente, a chance desse bebê, portanto é um exame que precisa constar durante o seguimento neonatal.

Sobre Dr. Claudio da Silva Miragaia

Dr. Claudio da Silva Miragaia - CRM: 99141; Cardiologista Pediátrico formado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Título de especialista e área de atuação reconhecido pela AMB/SBP/SBC. Pai da Júlia (6 anos) e do Vinícius (4 anos), atende em consultório próprio na cidade de São José dos Campos – SP / e-mail: claudio@almanaquedospais.com.br

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