Entendendo as cardiopatias congênitas | Parte 4 – Normofluxo Pulmonar

Cardiopatias de Normofluxo Pulmonar

As cardiopatias de normofluxo pulmonar são decorrentes de alterações anatômicas em que não há aumento ou diminuição da irrigação dos pulmões. Portanto nota-se que essas cardiopatias não apresenta uma comunicação entre o lado esquerdo e direito do coração, situação que era essencial nas cardiopatias de hiper e hipofluxo.

Para entendermos as cardiopatias de normofluxo pulmonar vamos relembrar o funcionamento do coração normal. O coração é formado por quatro câmaras (2 átrios e 2 ventrículos) que funcionam como se fossem dois corações independentes, sendo um (do lado direito) responsável por receber sangue venoso (rico em gás carbônico) do corpo e enviá-lo aos pulmões, e outro (do lado esquerdo), recebe o sangue oxigenado (arterial) dos pulmões e o distribui para todo organismo. Esses dois corações são separados por uma parede íntegra, o septo cardíaco, que se chama septo interatrial ao nível dos átrios e septo interventricular ao nível dos ventrículos.

As cardiopatias de normofluxo pulmonar são, geralmente, doenças valvares, ou seja, elas afetam o funcionamento normal das valvas do coração. As valvas são estruturas responsáveis pelo direcionamento do sangue no interior do coração.

Entre os átrios e os ventrículos temos as valvas átrio-ventriculares (valva tricúspide entre átrio direito e ventrículo direito; e valva mitral entre átrio esquerdo e ventrículo esquerdo), elas se abrem durante a diástole (no momento do relaxamento do ventrículo), permitindo a passagem do sangue aos ventrículos, e se fecham durante a sístole (momento da contração ventricular) impedindo que esse sangue retorne aos átrios.

Na saída dos ventrículos temos as valvas ventrículos-arteriais (valva aórtica à esquerda e valva pulmonar à direita), que se abrem durante a sístole, permitindo que o sangue chegue às artérias sendo assim direcionado ao seu destino, e se fecham durante a diástole, impedindo o retorno desse sangue ao coração.

Nas cardiopatias de normofluxo há uma malformação nessas valvas que podem resultar tanto em uma dificuldade de abertura (estenose) como de fechamento (insuficiência). Há uma grande variedade dessas cardiopatias, portanto nos ateremos apenas às mais frequentes e de maior importância clinica.

1 – Estenose valvar pulmonar.

É a cardiopatia de normofluxo pulmonar mais frequente na população geral. Trata-se da dificuldade de abertura da valva pulmonar. É comum associar essa cardiopatia com uma doença de hipofluxo, mas na estenose pulmonar não há um desvio do sangue ao lado esquerdo, portanto todo sangue será direcionado aos pulmões. Os sintomas dependerão da gravidade da estenose. As estenoses levem podem permanecer assintomáticas durante toda vida e nunca precisarem de intervenção. Já as estenoses mais severas geralmente se iniciam assintomáticas, mas caso não sejam tratadas, podem levar a falência do ventrículo direito. Nas críticas o ventrículo já não consegue manter o fluxo pulmonar e o recém-nascido já apresenta sintomas de gravidade, necessitando de intervenção já no período neonatal.

O tratamento da doença se baseia na correção do defeito anatômico, que geralmente, pode ser feito via cateterismo cardíaco ou por cirurgia aberta.

normofluxo pulmonar 01

2 – Estenose valvar aórtica.

 

É a principal causa de morte súbita em crianças com cardiopatias congênitas. O ventrículo esquerdo é responsável por bombear o sangue a todo organismo. Durante a atividade física ou em situações de estresse temos uma necessidade maior de oxigênio em nossas células. Esse suplemento maior de oxigênio é conseguido à custa de um aumento do trabalho cardíaco, principalmente do lado esquerdo do coração. Caso haja uma obstrução à saída desse sangue haverá um sofrimento do ventrículo esquerdo que pode desencadear desde arritmias fatais, até a incapacidade do ventrículo de supri as necessidades do organismo levando a um baixo fluxo sanguíneo cerebral com consequentes desmaios e, em casos extremos, morte súbita. Essa situação de morte súbita geralmente acontece nas estenoses aórticas graves, no entanto, por se tratar de uma cardiopatia evolutiva, ou seja, que pode apresentar piora durante a sua evolução, os familiares devem ser orientados desde o início sobre a importância do seguimento rotineiro, principalmente pelo fato dessa cardiopatia ser na sua grande maioria assintomática, mesmo quando o grau de obstrução é importante.

O tratamento é a correção do defeito, que pode ser feito tanto cirurgicamente como, em casos selecionados, via cateterismo.

Estenose valvar aórtica

3 – Coarctação da aorta.

Trata-se de um estreitamento da artéria aorta. É a principal causa de hipertensão arterial na criança. Geralmente é assintomática e quando leve necessita somente de acompanhamento, sem indicação de intervenção. No outro extremo há as coarctações graves, que necessitam de intervenção nos primeiros dias de vida. Entre essas duas situações há as coarctações que evoluem com repercussão ao funcionamento do coração e com hipertensão arterial, quando é indicada a correção do estreitamento via cateterismo cardíaco ou por cirurgia.

Coarctação da aorta

4 – Prolapso da valva mitral.

É muito frequente, principalmente na sua forma leve quando não há o comprometimento da função da valva mitral. No prolapso um dos folhetos da valva mitral “invade” o átrio esquerdo, durante o seu fechamento (sístole). Na maior parte das vezes esse prolapso é leve e não prejudica o funcionamento da valva, no entanto, quando o prolapso é muito grande a função da valva fica comprometida e ela se torna insuficiente, permitindo o refluxo de sangue ao átrio esquerdo. Nos casos graves e sintomáticos o tratamento cirúrgico é indicado.

Alguns pacientes podem apresentar palpitações, mesmo nos prolapsos leves, que é uma situação benigna, mas que pode incomodar e preocupar o paciente. Nesses casos o tratamento medicamentoso costuma ser eficaz.

Prolapso da valva mitral

Há varias outras cardiopatias de normofluxo pulmonar, que não descrevemos nesse artigo. Aqui estão listadas as mais frequentes e de maior implicação clinica. Devemos ressaltar a importância do diagnóstico precoce e do seguimento adequado de qualquer cardiopatia, para que a evolução e o desenvolvimento da criança cardiopata possa se dar da melhor forma, possibilitando a esse paciente uma vida plena e saudável.

Sobre Dr. Claudio da Silva Miragaia

Dr. Claudio da Silva Miragaia - CRM: 99141; Cardiologista Pediátrico formado no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. Título de especialista e área de atuação reconhecido pela AMB/SBP/SBC. Pai da Júlia (6 anos) e do Vinícius (4 anos), atende em consultório próprio na cidade de São José dos Campos – SP / e-mail: claudio@almanaquedospais.com.br

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