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Bebê com perda de fôlego

A história é sempre muito semelhante. O bebê ameaça a chorar, começa a “puxar o ar” e não solta, depois fica com os lábios roxos, que se espalha para o rosto e por fim atinge todo o corpo. Algumas vezes solta o choro, em outras desfalece e fica “molinho” no colo. Admito, é uma situação que assusta a todos que estão em volta. Nessa hora os segundos parecem minutos e tendemos a nos desesperar sem saber o que fazer. Estamos falando da perda de fôlego do lactente.

Trata-se de uma situação muito frequente, é uma queixa comum em consultório, e sempre vem acompanhada por muitas dúvidas e preocupações, mas, é importante ressaltar, que na grande maioria dos casos é um evento benigno e de resolução espontânea.

A intenção desse artigo é tranquilizar os pais em relação à perda de fôlego benigna, que é a entidade mais frequente. No entanto toda criança que apresenta perda de fôlego frequente deve ser avaliada pelo pediatra, pois algumas cardiopatias, neuropatias ou mesmo afecções sistêmicas podem causar quadros semelhantes. O médico através da história clínica e do exame físico é capaz de definir cada caso.

A perda de fôlego benigna do lactente.

O corpo humano é extremamente eficiente em sua preservação. Possuímos mecanismo de defesa não só contra agressores externos, como também apresentamos compensações e adaptações a situações intrínsecas que possam nos prejudicar.

A respiração é uma atividade voluntária, ou seja, a inspiração e a expiração podem ser controladas por nossa vontade. Podemos variar a velocidade da respiração e até parar de respirar se assim desejarmos. No entanto, a respiração é um ato essencial à vida e por isso nosso organismo não permite que nos esqueçamos de respirar, para isso ele condiciona a respiração a um ato reflexo, que é imediatamente acionado quando necessário.

O lactente é um ser em formação e ainda imaturo e é frequente, que em situações de stress, na tentativa de iniciar o choro, ocorra um “esquecimento” de respirar. Assim o ar ambiente, de onde tiramos o oxigênio, não chega aos pulmões, onde seria trocado pelo gás carbônico, coletado pelo sangue das células do nosso organismo, desse modo, ocorre um aumento na concentração de gás carbônico na circulação sanguínea e o sangue, rico em gás carbônico, adquire uma coloração arroxeada, coloração essa que se reflete nas mucosas e na pele. Esse “arroxeamento” da pele e mucosas é o que chamamos de cianose.

A cianose é um sinal frequente nas cardiopatias e indica doenças graves, com alterações complexas na estrutura do coração. Por esse motivo é comum que qualquer episódio de cianose seja associado à doença cardíaca. Entretanto, nas cardiopatias cianóticas, a criança mantem a coloração arroxeada mesmo durante o repouso, não é o que acontece na criança que perde fôlego, nesses casos a criança é corada durante o repouso e só fica “roxinha” no momento da perda de fôlego, quando não há troca gasosa pulmonar.

Com a diminuição do oxigênio circulante o organismo lança mão do seu mecanismo que segurança, que é o ato reflexo da respiração, no entanto o bebê está voluntariamente prendendo o fôlego, assim, para que volte os movimentos respiratórios, o organismo leva a criança a um estado de sonolência onde ele não consegue inibir o ato reflexo da respiração. Por esse motivo que após a perda de fôlego o bebê fica “molinho”, como se tivesse desmaiado, e com a respiração mais rápida e profunda.

Fica fácil entender porque a perda de fôlego aflige tanto aos pais. É um evento que se apresenta de uma forma muito dramática assustando quem está ao lado, mas se trata de um evento benigno, que não acarreta nenhuma complicação imediata ou sequela tardia para criança, assim durante o episódio devemos manter a calma, pois se resolverá espontaneamente sem necessidade de intervenção. Muitas vezes valorizamos o evento em demasiado e a nossa aflição passa para criança que tende a repetir esse evento continuamente. Com o crescimento os episódios se tornarão mais espaçados e raramente se mantém após os quatro anos.

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