Ícone do site Almanaque dos Pais

Como ser mãe me tornou uma pediatra melhor

Olá! Meu nome é Patricia, tenho 34 anos, sou casada e tenho um filho de 2 anos. Sou pediatra e neonatologista; atualmente trabalho no meu consultório, mas já tive uma vivência de 5 anos em maternidades e berçários.

Há 2 anos nasceu meu pequeno Lucas. Foi muito interessante experimentar, na vida pessoal, muitas das situações da vida profissional. E foi muito interessante também observar as mudanças que ocorreram em mim com a chegada do meu bebê, não apenas mudanças físicas (o abdome nunca mais volta a ser o mesmo…), mas também mudanças no meu jeito de ver o mundo, as pessoas, as situações, eu mesma…  Tenho uma amiga psiquiatra que me disse uma vez: “Se você teve um filho e continua sendo a mesma pessoa, você não entendeu o recado”. E é isso mesmo! É impossível manter as mesmas convicções intactas quando você vê a vida florescendo e um novo ser crescendo e se desenvolvendo diante dos seus olhos. Ter um filho é aprender sobre o amor incondicional, é deixar de gravitar em torno de si próprio e olhar para aquele pequenino que depende de você para tudo e sentir o coração aquecido… Claro, nem tudo são flores… Há momentos difíceis, mudanças na rotina, cansaço, falta de paciência, enfim… Enxergar e saber lidar bem com os aspectos negativos é um exercício que exige treino constante.

                O nascimento do Lucas me trouxe uma sensibilidade que eu desconhecia, até uma certa fragilidade… Eu, que sempre fui durona, sistemática, um “coração de nitrogênio líquido” como dizem alguns… Hoje em dia, às vezes me pego sorrindo sozinha na rua quando vejo um passarinho e penso: “Pi-Piu”.

E essa sensibilidade também atingiu minha vida profissional como pediatra. Tento ser mais atenciosa e receptiva àquelas situações desafiadoras como “meu filho não come”, “meu filho não dorme”, “ meu filho faz birra”… Tento entender o que há por trás dessas situações, além do aspecto orgânico, pois em geral há muitos aspectos comportamentais e na forma como as relações se estabelecem. Sei disso porque às vezes meu filho também não come, às vezes também não dorme, às vezes (muitas vezes…) também faz birra…

É claro que não é necessário ter filhos para ser um pediatra que aborda as coisas dessa maneira, mas a maternidade me ajudou a enxergar a criança e também a mãe de uma forma diferente, mais amorosa e compreensiva. E às vezes eu penso que é isso que falta em nosso dia-a-dia: amor e compreensão. Nós nos prendemos em questões pequenas do cotidiano e nos esquecemos que a primeira coisa que a criança precisa é ser amada, ser compreendida como criança, ser abraçada e embalada, aquecida pelo carinho e pela ternura. E nos esquecemos também que nós, mães e pais, também precisamos ser amados, compreendidos, abraçados e embalados, para poder oferecer carinho e ternura aos nossos filhos. É isso que eu tento incorporar ao meu lado pediátrico…

Ah, mas não é tão fácil assim! É claro que minha vida não é perfeita… Eu também tenho dúvidas (muitas!), inseguranças, temores. Eu também perco a paciência quando o Lucas faz birra e se joga no chão em público. Fico apreensiva quando ele fica doente. Tenho vontade de me esconder dentro do armário quando ele chama “mamãe” pela milionésima vez no dia. Enfim, sou uma mãe normal. E sou uma pediatra normal também, tenho dias inspirados e dias meio chatos…

Ter filhos é um acontecimento que muda o eixo das nossas vidas; é preciso saber vive-lo intensamente, desfrutar das coisas boas, aprender com as coisas não tão boas, mas acima de tudo ser cada vez mais consciente das próprias atitudes e escolhas.

Sair da versão mobile