Relação entre um pai e um padrasto

Olha… refletindo muito sobre esse tema, me dei conta de que é um assunto muito complexo, mas que muitos homens sofrem muito por isso.
Sofrem? Talvez seja uma palavra exagerada, mas sofrem sim. Porque?

lizandro e filho

Bem, eu sou um felizardo, pois meu filho mora a maior parte da semana comigo, sou eu quem o crio e a menor parte da semana ele passa com a mãe e com o padrasto dele.
Mas para a maioria dos pais, aqueles que pegam de 15 em 15 dias por determinação da lei ou por permissão de uma mãe guardiã, seu próprio filho(a) é criado(a)… por outro homem, pelo padrasto.

Eu já estive dos dois lados: fui padrasto e meu filho foi criado por um (antes de morar de vez comigo). Eu sei como funciona os dois lados da moeda e posso adiantar que é um assunto muito sensível, que depende muito dos egos de cada um.

Lembro quando me tornei padrasto. Conheci primeiro o avô paterno e depois conheci o pai da minha então enteada. A sensação foi até mais tranqüila com o pai, mas o sentimento emitido era o mesmo por parte dos dois: – você está com minha neta/filha sob seus cuidados, tome conta dela ou se entenderá comigo.
O avô foi assim direto, quase colocando o dedo no meu peito; o pai foi mais…, como direi…, sensível, com mais tato.
Eu entendi de cara a preocupação deles e nunca os critiquei pela postura que eles tomaram, pois eu imaginei o que é a preocupação de um outro homem, que eles não conheciam quase nada, estar cuidando de uma menina, na época com 9/10 anos.

Depois, anos depois, tive meu filho, me separei e em dado momento, ele ficou morando com a mãe e ela se casou de novo, agora era meu filho sob os cuidados de outro homem. Minha preocupação foi gigantesca.
Não foi só o medo de que ele fosse um pedófilo ou que fosse agressivo com meu filho (até porque, isso EU resolveria com ele), mas eu já tinha me dado conta, muito antes, que o homem que passaria valores mais facilmente para meu pequeno, não seria eu, seria um novo desconhecido, o padrasto.

Eu estava/estou exagerando? Veremos.
Vamos nos basear no caso mais comum: um pai que vê de 15 em 15 dias e o padrasto que convive todos os outros dias. Num mês de 30 dias, 26 dias está sob os cuidados de outro homem que não o pai. (Nem vou comentar sobre isso ser justo ou não com um pai que queira se fazer presente)

Absorção de valores pela criança, passagem de conhecimento pelo adulto, de conduta moral e ética sendo observada, percepção de cuidados mínimos no comportamento cotidiano da criança… tudo em enorme maioria alienado do pai, pois mesmo que a relação entre a mãe e o pai seja boa, ele fica só com a passagem oral dos problemas, não vive e por isso não pode interferir adequadamente na resolução e mitigação deles. Eu vi tudo isso e me preocupei enormemente.

Quase não importa o que o pai saiba do outro homem que cuida de seu(ua) filho(a), você fica a mercê do outro, sem poder agir ou estar a par dos acontecimentos in loco, no problema que seu filho venha a apresentar com ele na hora ou como ele venha a agir com a criança; você só saberá depois de acontecer, pois seu pequeno não está sob seus olhos, sob sua guarda. Tem que literalmente, entregar na mão de Deus e observar depois como andam as coisas , se tudo corre dentro do script esperado.

Eu aconselho, hoje, tendo vivido os dois lados, é que não adianta hostilizar o padrasto assim que ele se apresenta. Tem que mostrar a ele que o pai está presente, que intervirá pelo bem da criança e que o padrasto entenda isso e possam criar uma relação mínima de convivência pacífica. Conversem se necessário for, mesmo que seja num bar ou em pé na entrada da casa da mãe. Não precisam ser amigos, mas tem que criar uma relação mínima de respeito e diálogo.

Qual o papel da mãe nessa hora?

Bem, por teoria, ela escolheu um homem que atende as necessidades dela e, espera-se, que possa conviver em harmonia, com o fato de que ela teve um (ou mais) filho(s) com outro homem e que ele participará da relação que esse homem, o padrasto, terá com o filho dele. Sendo assim, fazê-lo entender que há um pai e que esse pai É o pai e esse outro homem É o PADRASTO.

Isso tudo, num caso de um pai participativo, claro, pois eu sei e conheço muitos casos onde o padrasto se torna um pai melhor do que o genitor. Mas… lembrem-se dos papéis… alguém tem que ser o pai e se HÁ um pai, não coloque outro homem nessa função, pois esse homem, o pai, pode estar sofrendo com o fato de que ele não é mais a figura masculina presente na vida de seu rebento e essa criança pode criar uma relação ruim com esses adultos que estão tentando empurrar um “novo” pai para ela.

Facilitemos para a criança, para o pai e para o padrasto, pois este sabendo que há um homem que assume a responsabilidade paterna de uma criança, ele não tem a obrigação de assumir essa função e pode se relacionar mais levemente com sua esposa e seu(ua) enteado(a).

A vida é bem mais fácil quando as coisas são mais leves, não é?!
=]

Sobre Lizandro Crus Chagas

Carioca, professor, influenciador digital, pai solo e militante da paternidade ativa.

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2 comentários

  1. A mãe do meu filho me deixou quando meu bebê tinha apenas 3 meses, hoje ele com 6 meses, sofro o impacto da separação e do distanciamento do filho. É inevitável que ela terá outro homem, o meu medo, é que esse homem viverá com o meu filho mais do que eu, o próprio pai.

  2. sidney silva

    nossa que legal sua história por incrível que pareço sou também sou professor de geografia e padrasto .

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