Tolerância e respeito à escolha de cada mãe

Faz pouco tempo que descobri o imenso universo de blogs sobre maternidade e outros assuntos relacionados a crianças. Acho que esses blogs são uma ferramenta poderosa para compartilhar experiências, mas há muitas discussões inflamadas, um pouco de intolerância e até certo radicalismo… Cada pessoa tem suas concepções e expectativas a respeito do que é ser mãe, como gostaria que seu filho viesse ao mundo, sobre amamentar, sobre o uso de chupetas, sobre o sono e muitos outros aspectos. Informações científicas e dados de pesquisas dificilmente mudam essas concepções e expectativas. Não, eu não sou contra a ciência nem contra pesquisas, acho que ter informações de qualidade é essencial, mas acredito que elas não são suficientes quando lidamos com pessoas; é preciso considerar o aspecto emocional e a história de vida de cada pessoa, de cada família.

escolha de cada mãe

Acredito que algumas das discussões dos blogs são importantíssimas, como o excesso de cesáreas e o incentivo à amamentação, mas precisam sair do aspecto virtual (que já é um começo…) e ganhar aspectos concretos.

Por exemplo: os relatos de partos domiciliares são lindos, mas e se, de repente, todas as gestantes quisessem ter seus bebês em casa? Quantas equipes seriam necessárias? Qual o custo financeiro envolvido? E quando algo der errado? Quais os riscos e de quem são as responsabilidades? Os hospitais, as maternidades, as intervenções médicas, os protocolos não foram inventados à toa e nem com o objetivo de “roubar o parto” de ninguém, eles foram desenvolvidos para garantir um atendimento mais seguro e com a maior chance de êxito possível. Com o tempo, houve uma supervalorização dos aspectos técnicos em detrimento dos aspectos humanos e emocionais, que a meu ver são primordiais nesse momento tão especial. Em muitos serviços médicos, sejam SUS ou convênio, nascer virou um processo automático e em série… Mas acredito que o caminho é resgatar a essência do que significa o nascimento de uma criança, seja no funcionamento das instituições, na prática dos profissionais de saúde e também nas expectativas das gestantes. Que as mulheres possam parir em ambientes acolhedores e cercadas de respeito e carinho… Que os bebês cheguem ao mundo envoltos em amor e delicadeza… Mas que em todos os momentos desse lindo processo, mãe e filho tenham a melhor assistência médica possível! E uma cesárea não torna ninguém menos mãe…

Outro exemplo: amamentar com certeza é o melhor para a mãe e para o bebê, ponto final. Mas não é só uma questão de saber o que é o melhor ou querer fazer o que é o melhor para o bebê. Muitas mães muito bem intencionadas não conseguem estabelecer com sucesso a amamentação, pois não é só uma questão de técnica, há muitos aspectos emocionais, psicológicos, sociais e culturais envolvidos. E não conseguir amamentar também não torna ninguém menos mãe…

Há inúmeros outros exemplos… Os malefícios do uso da chupeta são amplamente conhecidos, mas como criticar quem opta por utilizá-la? Nem todo mundo consegue encontrar outras soluções para horas de choro, cólicas, exaustão… Obviamente, eu não oriento o uso de chupetas, mas também não julgo quem usa.

Criar polêmicas é fácil, difícil é encontrar soluções para os problemas. Problemas que vêm crescendo a décadas, que têm um substrato cultural forte. Mais difícil a ainda é aplicar lindas teorias à realidade de cada mulher, de cada família. Acho muito importante discutir, denunciar, trazer à tona os problemas e dificuldades e também os acertos e caminhos alternativos, mas sempre guiados pela tolerância e pelo não-julgamento. Afinal, não há premissas universais sobre a maternidade, exceto o amor e o respeito pelo ser-humano.

Sobre Dra. Patricia Carrenho Ruiz

Patricia Carrenho Ruiz, médica pediatra e neonatologista. CRM 113719. Mãe do Lucas, nascido em janeiro de 2012, atualmente, se dedica a ser uma boa mãe pediatra e também uma boa pediatra mãe, refletindo sobre aspectos técnicos, mas também humanísticos dos cuidados com as crianças. Consultório em São José dos Campos. Contato (12) 3922-0331

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Um comentário

  1. Muito bom.

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