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Mãe com câncer: Na cadeira do dentista

O que significa uma dor de dente para quem tem uma doença tão penosa?! Digo a vocês que muita coisa…

Há cerca de dois meses sinto uma dor terrível do lado esquerdo da boca. Certo, vamos ver do que se trata. Vai pra lá, vai pra cá e nada! Na sequência desse dilema iria realizar uma cirurgia no fígado, a sétima, para a retirada de dois nódulos que a quimioterapia endovenosa não havia conseguido eliminar.

Meu dentista, sempre muito atencioso, me medicou e disse que não era o momento de abrirmos nenhum dente, visto que a cirurgia seria em poucos dias, e eu precisaria estar bem para que corresse tudo certo.

Minha pequena e doce dentista Sofia

Cirurgia realizada com sucesso, mas dessa vez foi diferente sabe?! Achei que fosse morrer. Sabia de todos os passos de um centro cirúrgico, de como tudo acontecia, como a anestesia geral me fazia mal, como tudo aquilo me causava medo. Foram momentos difíceis divididos entre mim e meu marido. Aquela separação na porta do Centro Cirúrgico dessa vez me fez pensar se veria o sorriso da Sofia novamente, pedi para ser totalmente sedada e atenderam meu pedido, foi um alívio!

Cirurgia feita, vamos para casa! Recuperação excelente.

E o dente? Ficou quietinho devido às medicações aplicadas para a cirurgia, mas assim que elas acabaram ele voltou a me atormentar.

Então retornei ao dentista e nada! Não conseguiam descobrir a causa de tanta dor. Até que um dia ele resolveu mexer em um dente que eu queixava bastante que doía, era lá do fundão, foi preciso extrai-lo. “O procedimento é um pouquinho chato Lu, mas vai dar certo”. Então, pensei: “Vamos lá encarar mais essa, preciso me livrar desta dor”.

Ele começou a me anestesiar e eu sentia como se cada célula do meu corpo estivesse se contorcendo de dor, mas segurei firme. E mais anestesia, mais e mais. Quando já não sentia mais a boca e minha cabeça estava doendo absurdamente começou a passar um filme e foi impossível controlar as lágrimas. Comecei a chorar como uma criança quando está com sono e quer a Mãe. Soluçava compulsivamente naquela cadeira. Ele parou tudo. Pediu que a secretária saísse da sala, tirou a máscara, deu um beijo em minha cabeça e disse: “Você está cansada de sofrer não é? Uma hora cansa, eu te entendo”. Era exatamente aquele sentimento que me domininava naquele momento, CANSAÇO. Ele então deu espaço para que eu me abrisse, e aquele choro reprendido e sempre querendo ser forte se foi em cerca de 20 minutos. Chorei muito, muito, muito, reclamei da vida e questionei o porquê de tanto sofrimento e que realmente não estava mais aguentando tanto “peso”. Me reestabeleci e disse que podíamos começar o procedimento. Mas, de fato, aquele não era um bom dia, ele começou o tratamento e fazia uma força incrível para extrair o dente, eu sentia muita dor mesmo, chorava e pedia a DEUS que me ajudasse a aguentar aquele momento, achei que fosse desmaiar. Durante todo o processo ele foi incrivelmente amigo, sensível, me pediu desculpas por me causar tanta dor, e fez o mais leve que podia, mas o mais leve era uma serra elétrica dentro da minha boca, fazendo tremer tudo, até os pensamentos mais escondidos. Enquanto aquele motor quase me matava de dor, as lágrimas escorriam e eu pensava que tinha que ser FORTE, porque dali a uma hora teria que levar Sofia para a escola.

Quando terminado demos um abraço forte e um “Me ligue se precisar, se sentir dor, para qualquer coisa ok”?!

Fui embora mais leve por ter desabafado tanto, por ter dividido tanta dor física e emocional. Cheguei em casa com metade do rosto inchado e com uma dor de cabeça que nunca imaginei que pudesse sentir. Sofia me olhou e disse: “Mamãe, você chegou!!! Vai me levar para a escola?! Podemos ouvir aquela música que eu gosto no carro??” Nesse momento fiquei anestesiada, mas não de dor e sim de alegria e gratidão por poder leva-la ao colégio ouvindo música bem alto e dançando no carro como ela gosta. Depois pedi para uma amiga trazer ela da escola, não consegui mais levantar durante o dia.

Fiquei deitada o resto da tarde, Nice a recebeu, deu banho e jantar. Daniel chegou, olhou pra mim e senti a tristeza em seu olhar, ele fica péssimo quando me vê debilitada daquele jeito.

Todos que passamos por um problema dessa magnitude temos o direito de cair, de extravasar de reclamar! Ninguém é de ferro, somos seres humanos!! Mas o mais importante de tudo é LEVANTAR, olhar pra frente, se apegar no AMOR, na VIDA….e termos a certeza de que amanhã será um novo dia, cheio de esperanças.

Força, Fé e Coragem a todos nós!

Até o próximo post

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