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A gravidez tem seus lados difíceis

Foi um desafio definir o nome para esse post, variei entre muitos termos para evitar usar a palavra “difícil”, mas nenhuma outra conseguia passar a mensagem que eu desejava. Então, depois de muito reescrever, acabei decidindo manter o meu primeiro pensamento ao escrever: A gravidez tem seus lados difíceis.

Foto: Reprodução www.babygaga.com

 

Os lados gloriosos da gravidez prevalecem nos textos que encontramos por aí: brilho nos olhos; emoção e milagre por gerar uma vida; grávida fica mais bonita e feminina (será?)… São tantos pontos luminosos que, sem dúvidas, faz o lado mais obscuro se tornar secundário.

Mas os lados obscuros existem e toda mulher grávida tem sim o direito de não admirar seu reflexo arredondado no espelho, ou mesmo não levar tantas lembranças positivas da gravidez.

O que motivou a escrever sobre os lados difíceis da gestação foi que recentemente vi uma postagem no Facebook de uma mulher que reclamava do incômodo que era estar grávida e que não via a horar de se livrar da pança e voltar a ter um corpo normal. Os comentários foram um show de horror: pessoas que indagavam se ela poderia ser uma boa mãe já que estava reclamando de carregar o filho na barriga – heim?! – outras que a ofendiam por ser egoísta e pensar mais no próprio corpo do que em seu bebê, enfim, dá para gastar o teclado de tanto digitar os absurdos que li alí.

O que os haters – termo para definir pessoas que postam comentários de ódio ou críticas sem muito critério – não sabem é o que essa mulher passou durante sua gestação. Na verdade nem eu sei, mas julgar a qualidade de uma mãe por um post no Facebook é muito para minha cabeça.

A gravidez tem seus lados difíceis e ela pode ter passado por vários problemas:

Quem sabe ela sofreu ou sofre algum tipo de violência;

Quem sabe ela sofreu por hiperemese gravídicatem um post aqui no site que explica melhor sobre a hiperemese gravídica – e vomitou várias vezes ao dia, não só no primeiro trimestre, mas em toda a gestação;

Quem sabe ela está sofrendo de depressãoque acomete cerca de 10% das gestantes, mas a maioria não assume ou procura por ajuda para não ser julgada como uma mãe ruim;

Quem sabe é uma gravidez de risco e os tratamentos pelos quais tem passado são muito desgastantes;

Quem sabe ela sofreu de dores nas costas que dificultaram até sua locomoção – eu mesma passei por isso na segunda gestação, por conta do nervo ciático inflamar eu não conseguia mais levantar sem ajuda ou pegar meu filho, na época com 1 ano, no colo, resultando num terceiro trimestre gestacional complicado;

Quem sabe ela simplesmente não gosta de seu corpo durante a gravidez, sua pele está com espinhas, seu cabelo estranho e sem vida, sua silhueta não combina com seu estilo de se vestir;

Quem sabe ela esteja se sentindo rejeitada pelo seu companheiro que não a acha tão sexy grávida ou tem medo de machucar o bebê se fizerem sexo;

Quem sabe o turbilhão de hormônios mexeu com seu estado emocional, o que a deixou mais irritadiça, chorona ou melancólica, e todos esses sentimentos a fazem se sentir mal com ela mesma;

Quem sabe ela não aguenta mais ouvir tantos julgamentos sobre o tipo de parto que ela deve adotar;

Quem sabe ela só teve um dia ruim, talvez até mesmo por não ter conseguido amarrar seus tênis por conta da barriga, resolveu desabafar para alguns amigos no Facebook e esqueceu – ou não sabe – alterar a configuração de privacidade e ficou a mercê de haters que a deixaram ainda mais abalada;

Quem sabe ela está cansada por conta do trabalho, dos preparativos para a chegada do bebê, da imensa lista de enxoval que ainda não está completa;

Ou até mesmo ela, como outras muitas outras mulheres, simplesmente não curte estar grávida e não viu problema em assumir esse sentimento.

Enfim, os motivos podem ser inúmeros e minha intensão ao listar alguns foi mostrar que realmente não podemos julgar. O apoio e a liberdade continuam sendo as melhores ferramentas para que a mulher possa ser e sentir.

Romper os tabus de gestação colorida e maternidade perfeita é importante para que todas as gestantes possam assumir suas angústias sem sofrerem com preconceitos, vergonhas ou julgamentos.

Não curtir estar grávida é um direito da mulher sim e também precisamos falar sobre isso.

 

Beijos e até o próximo post.

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