Nossas escovas de dente já estavam juntas havia três anos quando, em uma consulta médica para diagnosticar uns nódulos em meu fígado – depois de muitos exames e preocupações o diagnóstico era o melhor possível – o médico comentou que eu estava numa boa época para engravidar, afinal eu já estava com 30 anos e um fígado que não poderia mais receber hormônios – ou seja, sem pílulas anticoncepcionais ou outro método hormonal para evitar gravidez.
Foi assim, ao sair do consultório e ainda no carro, que eu e o Flavio falamos pela primeira vez em ter filhos, dois na verdade. E também foi assim que ele falou pela primeira vez sobre casamento e pediu minha mão e quase bateu o carro na sequência. Foi tudo tão rápido que em 3 meses subimos ao altar.
Desconfiei que estivesse grávida uma ou duas semanas antes do casamento, então corri para a farmácia para comprar um daqueles testes de gravidez que você pode fazer com qualquer urina do dia.
Cheguei em casa, corri para o banheiro com o exame em mãos, fiz xixi no lugar indicado, aguardei 5 minutos e apareceu uma linha nítida e uma marquinha d’água no lugar da segunda linha – mal sabia eu naquela época que qualquer sinal mínimo nessa segunda linha já seria a comprovação do que só fui descobrir depois – acreditei que, ao molhar o papel seria possível ver o local das linhas, porém como ela não tinha quase nenhuma coloração o resultado era negativo.
Bom, o casamento estava chegando, então bora voltar aos preparativos.
Chegou o dia tão esperado: massagem, arruma daqui, arruma de lá, penteado, a maquiadora atrasa 2 horas (acreditem, era para ela subir para meu quarto do hotel às 17:30h e ela subiu 19:30h e meu casamento estava marcado para 19:00h, mas isso é assunto para outro post). O vestido fica estranhamente apertado em meus seios e minha mãe perguntava se eu havia engordado, e eu só imaginava que aquele dia que deveria ser o mais feliz da minha vida estava se tornando um fracasso.
Noiva chega atrasada e, como em um conto de fadas, aquele caos se transformou em uma noite maravilhosa. Eu me sentia a mulher mais feliz do mundo, era difícil segurar a emoção que cismava em molhar meus olhos.
Já ouvimos mil histórias sobre a primeira noite de casados, que após curtir a festa e todo estresse que envolve a organização do casamento, o casal geralmente não tem pique para a noite de núpcias, então para evitar frustrações combinamos que nossa noite de núpcias seria na noite seguinte. Após a festa fomos para o hotel, meu marido dormiu enquanto minha irmã me ajudava a tirar o vestido e os grampos do cabelo e eu tomava um belo banho para tirar maquiagem e o fixador do cabelo.
No dia seguinte eu e o maridão fomos em direção a um resort no nordeste para nossa Lua de Mel. Chegamos eram quase 22:00h e nosso quarto não tinha sido preparado como combinado, com pétalas, espumante e frutas. Ligamos para a recepção chateados e nos foi prometido que em 30 minutos chegaria o garçom com o espumante. Dormimos enquanto aguardávamos o espumante (que nem chegou) e acordamos no dia seguinte de roupa e rindo da nossa segunda noite de casados. Agora sim, numa segunda-feira, começa nossa lua de mel e o resort pediu desculpas e decorou nosso quarto enquanto estávamos curtindo a piscina.
No dia seguinte comecei a me sentir meio enjoada, mas só poderia ser alguma coisa que havia comido!
Eu não sou adepta a dormir à tarde, até porque tenho a sensação de que acordo ainda mais cansada e preguiçosa, mas durante a lua de mel eu dormia todas as tardes – para a felicidade do Flavio que nunca perde a oportunidade de cochilar.
Naquela época nós não pudemos tirar férias após o casamento, então nossa viagem de lua de mel foi curta, no sábado já estávamos chegando em nossa casa.
Na segunda-feira seguinte eu estava no trabalho e sentindo uma dor de cabeça gigante, além daquele enjoo alimentar que não me deixava em paz. Quando saí para almoçar a Adriana – colega de trabalho e amiga pessoal – começou a especular que eu poderia estar grávida.
– Claro que não Adri, eu fiz o exame e deu negativo!
Enfim, ela me convenceu a comprar um novo teste de farmácia para tirar as dúvidas. Depois de alguma insistência cedi e comprei o tal teste. A ideia era realizar quando eu chegasse em casa, mas ainda está para nascer mulher mais ansiosa que eu. Assim que voltei para a empresa eu fui ao banheiro escovar meus dentes e já fiz o teste.
Mas eu não precisei esperar nem 10 segundos, as duas linhas saltaram em direção aos meus olhos que eu disse em voz alta, com sorriso aberto e olhos molhados:
– E aqueles 5 minutos? Nem tive tempo de me preparar!
Respirei fundo, sai do banheiro, cutuquei a Adri e a chamei para uma sala vazia. Contei a novidade e, depois de segurar o choro mais uma vez, falei que eu ia ligar para o Flá para contar e fui impedida sabiamente por ela:
– Desde quando isso é notícia para telefone? Espera até a noite, vai ser muito mais marcante para vocês dois!
Claro que não consegui ser muito produtiva durante a tarde, só pensava em como seria. Então tive a ideia de escrever uma cartinha como se fosse o bebê contando para o papai que ele está a caminho. Dei uma navegada em busca de inspiração e uma imagem simples, e mãos à obra. E ainda deu tempo de ir a um shopping comprar um par de meias de bebê!
Coloquei a cartinha dentro do notebook junto com as meias e, ao final do expediente, fui ansiosa e feliz para casa. No caminho, como sempre, passei na empresa que meu marido trabalha para pegá-lo.
Rotineiramente, quando chegávamos em casa, o Flavio pegava o notebook e se sentava em frente à televisão. Mas quem disse que ele fez isso? Ele ficou no computador e eu falando que tinha um documento para ele no notebook, que eu havia separado uns sites para ele ver, enfim, só faltou eu implorar para ele pegar o bendito. Já passava das 22:00h quando ele resolveu pegar o notebook, eu estava com a maquina fotográfica em mãos para a primeira foto do álbum do nosso filho.
Ainda é difícil lembrar sem me emocionar…
Ele levantou a tela, viu a cartinha e as meinhas, olhou para mim – claro que eu já estava chorando, grávida chora com ou sem motivo – me perguntando o que seria aquilo. Eu respondi que a carta era para ele, então só ele poderia descobrir.
Ele leu a carta com os olhos cheios de lágrimas e me deu um abraço gostoso, mas não foi apertado porque ele deveria estar com medo de apertar o bebê, mas não perguntei nada na hora, só pensei e achei graça sozinha.
E foi assim que deixamos de ser somente um casal, apenas uma semana após nosso casamento descobrimos que nossa família já estava crescendo. Sabemos que aquele médico que nos aconselhou a engravidar não deu somente um diagnóstico, mas a melhor razão para viver e sermos felizes: nossa família.
Monica Romeiro é mãe do Lucas e da Larissa e administradora do Almanaque dos Pais
linda história!