A comunicação e o respeito humano evitam a violência obstétrica
A gravidez pode gerar muitas expectativas, dúvidas e receios. A mulher se sente insegura, vulnerável e com medo, sobretudo no momento do parto. Mas, o que era para ser um momento mágico pode se tornar um verdadeiro pesadelo para muitas gestantes.
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A violência obstétrica é um assunto atual, mas ainda pouco discutido. Eu, como obstetra e defensor do parto humanizado, fico inconformado com os possíveis tratamentos desumanos à gestante durante a gravidez, no momento do parto e após o nascimento do bebê.
Algumas destas violências são fáceis de identificar, mas outras podem passar despercebidas visto que muitas mulheres ainda acreditam que alguns procedimentos são, de fato, comuns. Entretanto, os abusos podem não ser apenas provindos de alguma atitude, mas sim de uma palavra, um gesto, um movimento de ombros.
O médico tem que ter a noção que não é o senhor absoluto. A socialização do conhecimento e a grande difusão de informações fazem com que, no mínimo, a mãe tenha uma boa conversa com o médico e deixe claro o que ela pretende.
Há muitos sinais de violência obstétrica. Recusa no atendimento, agressões verbais, comentários constrangedores, privação de acompanhante, indicação excessiva de medicamentos, exames sucessivos de toque, cesárea agendada por conveniência e interesse médico, perda da autonomia da mulher para com seu corpo e da sua capacidade de decidir, são algumas violências que muitas vezes passam despercebidas.
Um destes abusos, caracterizados como violência obstétrica, me chama muito a atenção. Trata-se da episiotomia, incisão feita na região do períneo, que é feita com o argumento que isso é importante para a saída do bebê. Percebo que muitos médicos ainda têm muita dificuldade de abrir mão da episiotomia, achando que seja um procedimento necessário e indispensável, quando, na verdade, os estudos mostram que não é exatamente isso e que podemos abrir mão dele na hora do parto.
Outra situação é a indicação de uma cesárea. Atualmente, a mulher precisa discutir um pouco mais sobre isso. Não se pode simplesmente afirmar que este tipo de parto é o mais tranquilo e achar que a grávida deve aceitar. O médico tem que rever a sua linguagem e a forma como trata suas pacientes. O ideal é que esta relação seja humanizada e que juntos possam definir qual o método mais indicado.
O plano de parto é o momento ideal para que a mulher possa se expressar, relatar o que gostaria ou não em sua gravidez e no momento do parto, falar sobre seu pré-natal e o que deseja na hora do nascimento do seu bebê. E o médico precisa estar aberto para este tipo de discussão. Achar que a mulher está querendo “ensinar a missa para o vigário” é abrir espaço para a violência obstétrica.
A principal arma para se evitar a violência obstétrica é a comunicação. O tema é extremamente amplo e importante, passível de muitas discussões com a participação de todos os atores envolvidos no processo: estudantes de medicina, academia, médicos, professores, sociedade e, principalmente, as mulheres e seus familiares