Eu enganei meu filho

Eu sei que pode parecer bobo para muitos, talvez para grande maioria da sociedade brasileira, mas… eu enganei meu filho, mesmo que por pouca coisa, mas eu enganei.

Não, eu não disse algo que fosse para o melhor dele, como:
– Não filho, não tem cebola na comida não. Não filho, isso não é tomate não… ou coisas assim.

Eu menti para cumprir um acordo. Um que eu não queria cumprir, pois meu lado egoísta não queria, mas… tinha que ser cumprido, até porque, quando for do meu lado, quero que seja cumprido também.
Ele tinha que ir com a mãe e não queria. Eu disse que ia levar ele para comprar algo na rua e daria uma bala para ele, mas eu ia mesmo encontrar com ela, a mãe dele no ponto de ônibus e entregá-lo para ela.

Ele tinha me dito que não queria ir para a casa da mãe, que queria ficar comigo.
Isso levantou um monte de emoções fortes em mim.
Em outras vezes, ele não quis vir para minha casa… queria ficar com a mãe e foi até agressivo comigo, esperneou e tal… mas dessa vez… ele queria ficar comigo. Droga… claro que eu queria ficar com ele também.

Estou de férias… eu poderia ficar com ele o tempo todo… poderia pedir para ela para ele ficar um pouco mais de tempo comigo… afinal… a vontade dele conta, não é?
Não. Não quero ficar “queimando” cartas assim. Eu e ela estamos em situação sensível, delicada… não nos entendemos bem, só acordamos para os horários de entregar e buscar ele e não quero dar motivos para achar que estou “abusando” ou “tirando” ele dela, coisas assim… é o dia dela pegar ele e ele tem que ir, pois no meu dia, não quero ter esse tipo de discussão com ela e claro, quero ele o maior tempo possível comigo, assim como imagino que ela queira o mesmo com ele.

Pois bem… enganei ele.
Quando ele viu a mãe, me agarrou, chorou, eu falei que ele ia ganhar a bala que eu prometi, dei a ele, mas ele continuou dizendo:
– “Queru ficar com u papaaai!!!”

Ele já fez isso ao inverso, dizendo que não queria vir comigo e doeu também, de forma bem diferente, mas doeu também. Como essas coisas doem, né?
Eu não estava entregando ele para o Lobo Mau, mas a sensação que eu tinha era de que eu não devia estar fazendo aquilo e deveria ouvir o apelo dele.
Eu dei um abraço forte nele, dei um beijo apertado e dei as costas, pois para mim, ficar só iria aumentar o sofrimento dos dois, minha e dele. Ouvia o choro e os gritos dele, mas não me virei… só segui em frente, de cabeça baixa e dando passos que pareciam que não me levariam para lugar nenhum, só para longe daquela agonia.

Eu e Thomaz - ele com quase 2 anos
Eu e Thomaz – o menino mais lindo do mundo. (ele com quase 2 anos)

Eu aposto que em pouco tempo, tudo voltou ao normal para ele. Ele ama a mãe e vice-versa, mas eu fiquei me remoendo… por fazer algo que eu não queria e sim, por ter enganando ele.
Ele foi para rua comigo, de mão dada, todo serelepe, brincando, pulando… e eu fiz algo que ele me pediu para não fazer… me doeu. Não gosto de mentir, o faço por necessidade, como deveria ser:
– Filho, vai doer só um pouco… (mentira… passar povidine/iodo no machucado doe sempre, arde); filho, estamos quase chegando… (mentira… ainda falta meia hora para casa do meu pai); filho, você é o garoto mais lindo do mundo (mentira… os filhos da Angelina Jolie e do Brad Pitt devem ser muito mais bonitos… com pais daqueles…)

Eu posso estar exagerando no meu sentimento de vilania? Posso sim. Isso pode ficar gravado na cabecinha dele? Pode sim. Oh situaçãozinha difícil…

Eu só sei que amo meu filho e ter que “entregar” ele contra a vontade dele, me faz sentir um vazio no peito, isso faz sim.

Volte logo meu filho… esse pai besta aqui te ama e sente muito a sua falta.
=/

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Sobre Lizandro Crus Chagas

Carioca, professor, influenciador digital, pai solo e militante da paternidade ativa.

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