No primeiro ano de vida, a criança vive a chamada Fase Oral que, de acordo com o estudioso Freud, consiste em uma etapa do desenvolvimento onde a boca é um importante instrumento de prazer e descoberta. Para a criança, sugar, mastigar, comer, morder tem importância que vai além dos aspectos da alimentação, por isso que o bebê se acalma ao sugar o seio materno durante a amamentação, como também a chupeta ou o dedo.
O grande problema é que em muitos casos a chupeta passa a ter um uso incontrolável e a criança permanece longo período do dia sugando-a, trazendo então importantes interferências no crescimento de músculos e ossos do rosto.
Mesmo com bicos ortodônticos, as chupetas alteram a postura de lábios e língua, uma vez que temos a boca aberta e a língua posicionada no assoalho da boca (quando o padrão normal seria lábios selados e língua parada no céu da boca). A língua permanecendo em uma posição inadequada durante o longo período do uso da chupeta passa a exercer também de forma errada outras funções, como na mastigação e deglutição. O uso da chupeta e a interferência da língua nas funções podem causar a mordida aberta, uma alteração da oclusão dentária que podemos observar quando, ao invés dos dentes de cima cobrirem parte dos dentes de baixo, temos uma distância entre os estes.
Outro aspecto a ser considerado diz respeito aos acessórios usados para prender a chupeta na criança. Os mais indicados são as fitinhas de tecido ou correntes de plástico que se prendem à roupa. Deve-se evitar amarrar fraldas à chupeta pois seu peso faz com que o bico force mais ainda o céu da boca, deformando-o ao longo dos anos.
O recomendado é que a chupeta não seja disponibilizada o tempo todo. Seu uso deve ocorrer de acordo com a necessidade da criança, sempre aguardando que ela solicite a chupeta, como nos momentos de sono e estresse. Tão logo esta necessidade seja satisfeita, a chupeta deve ser removida.
Quando a criança deve parar de chupar chupeta?
É importante lembrar que, salvo exceções, não há necessidade da criança começar a chupar chupeta. Se desde pequena ela não aceitá-la, não há porquê insistir nesse hábito.
Para os 50% da população infantil que fazem uso de chupetas, a Associação Brasileira de Odontopediatria recomenda que o ideal é a remoção gradual do hábito até a idade de 2 anos . Isso porque existe a chance de auto-correção das possíveis alterações nas arcadas dentárias, consequentes do mesmo.
Como retirar este hábito?
Uma vez que o uso da chupeta tem envolvimento emocional, a retirada deve ser de forma gradual e não traumática à criança. Abaixo, algumas dicas:
– Se em cada cômodo da casa tem uma chupeta ao alcance da criança, vamos começar com esta limpeza! Chupeta deve ficar guardada e fora do alcance.
– Converse e explique de forma lúdica à criança os motivos das mudanças no hábito, afinal ela já é mocinha, e só bebê que chupa chupeta. A compreensão da criança ajudará no processo.
– Tente reduzir o tempo de uso, limitando gradativamente até chegarmos ao uso somente à noite para dormir.
– Estipule metas com a criança. Para ela ter uma maior consciência, é possível utilizar um calendário em um lugar visível da casa, onde a cada dia que não usar a chupeta ela vai colar um adesivo. Nos dias em que chupar, não poderá marcar nada.
– Combine com ela recompensas. Por exemplo, se completar 1 mês sem chupeta (daí, novamente com o uso da marcação no calendário), ela ganha um passeio ou algum brinquedo. Cuidado, pois muitas vezes a criança perde o foco na conquista das metas e começa um processo de chantagem sem fim para ganhar o brinquedo! Jamais pais e crianças devem esquecer de enfatizar o sucesso de não chupar a chupeta. A recompensa é apenas uma consequência.
Esse é um processo que requer persistência e paciência de pais e crianças! Se na primeira tentativa não der certo, ok. Nestes casos o fonoaudiólogo pode auxiliar no processo de retirada do hábito, a partir de estratégias lúdicas e exercícios específicos.
O importante é não desistir, pois sabemos que é para o bem dos nossos pequenos!
Abraços,