Paternidade é um problema social

Nossa sociedade não está acostumada a ver uma paternidade ativa e ainda estranha muito isso, tanto que prefere chamar esses pais de “pães” – mistura de mães com pais – do que simplesmente de pais…
Não, não tenho nada contra o “título”, mas ele é reflexo de que não estamos acostumados a ver homens praticando algo que deveria ser natural, cuidar de um(a) filho(a).

Eu não sei quem foi o desgraçado que deu a ideia de que homem tem que ser durão até no lidar com crianças… sei mesmo é que no Brasil ainda há pessoas que ficam perplexas comigo e com outros pais, simplesmente porque queremos ser plenamente atuantes em nossas paternidades, separados ou casados.

Quer ver um exemplo?
Uma vez me perguntaram se eu sabia trocar uma fralda…
“Tá brincando comigo???” Já troquei fralda dentro de ônibus lotado em dia de chuva. Já troquei sentado nas escadas do mergulhão da Praça XV, com uma mão só, segurando meu filho pelos pés, bebê ainda, com a outra mão…
Vou à praia sozinho com ele desde que ele tinha menos de 1 aninho. Pior, fui com o irmão dele, na época, com uns 7 anos (estou na dúvida agora) de ônibus… isso mesmo… eu e os dois, de ônibus. Com brinquedos de areia, carrinho de bebê, mochila com lanchinho, toalha, protetor solar, água… foi uma aventura, mas fui e sobrevivi. Sobrevivemos e nos divertimos.

Faça aquilo que é necessário!
Eu incorporei esse lema na minha vida e pratico na paternidade: Eu tenho que fazer aquilo que é necessário, pois ele precisa de mim.
Aprendi tudo na marra e com as dicas de quem já sabia algo e me passava: faço mamadeira, faço papinha, faço gelatina, mingau, suco, bolo, pudim, arroz e feijão, batata ou abóbora cozidos, carne bovina, frango (suíno é bom evitar com as crianças por conta de possíveis alergias e sensibilidade estomacais da idade), peixe, pastel e sei lá mais o que… lavei roupa na mão com sabão de coco; acordava de madrugada para colocar ele para mamar; limpei o umbigo dele (que coisinha nojenta aquilo…) até ver cair; banho na banheirinha com água em temperatura controlada (por sinal, besteira… se não estiver fria de verdade, temperatura ambiente é ótimo para eles, ainda mais com esse calor do Rio de Janeiro)… só não dei de mamar no peito por motivos óbvios, de resto, fiz TUDO que ele precisava.

Foi eu quem levou ele para vacinar pela primeira vez. Nem sabia como se chamava o moisés em que carreguei ele, mas fui. Fomos ao posto de saúde e todos me olhavam quase que como quem olha um unicórnio, perguntando pela mãe dele (internada com complicações pós-parto). Levei para dar ponto na boca quando ele abriu o beiço na porta de vidro do banco em que corria enquanto eu sacava no caixa eletrônico… junto com a enfermeira, eu que segurei ele no colo para a dentista costurar….

Uma vez (um homem, que já tem um filho adulto) me disse que eu era bobo: – Pegar de 15 em 15 dias eu iria ficar só com a parte boa. A parte boa???

Ser pai é participar de tudo
Ser pai é participar de tudo

Não quero a parte “boa”. Quero educar, quero ensinar, tentar prepará-lo para as adversidades da vida… essas ilusões de quem ama uma criança. Não me levem a mal as mulheres presentes no salão, mas tem coisas um pai pode fazer e até melhor do que vocês. Não, não diminuo o valor de vocês, mas também não aceito que diminuam a influência que um pai tem na vida de uma pessoa, quem dirá uma criança.

Sim, isso reflete no judiciário também…
Sei que tem uns animais que nem mereciam a capacidade de procriar, mas eles não podem servir de referência…
Um pai deve ser ouvido e deve ter o direito de poder exercer sua paternidade normalmente se assim for capaz.
Já escrevi sobre isso uma vez (mentira, escrevi várias vezes)… um homem na plena capacidade de exercer sua paternidade e assim demonstrar que queira, tem que receber o direito de o fazê-lo. Quem não acha que um pai faça diferença na vida de uma pessoa, é porque não teve um atuante ou presente na sua vida e não sabe o que diz.

Temos que facilitar esse acesso, temos que ampliar o convívio de nossas crianças com seus pais, pois o que não falta nos dias atuais, são homens querendo levar seus filhos na escola, fazer o dever de casa com eles, ler historinhas para dormir, fazer o bolo de aniversário com o gosto que seu pequeno tanto gosta, chegar em casa e ouvir um infantil grito com o sorriso mais gostoso do mundo: – papai chegou!!!

Isso quer dizer que devemos tirar os filhos de suas mães? Claro que não, mas devemos praticar e deixar praticar mais a presença paterna.
Enquanto pensarmos mais em nós do que neles, eles quem perderão.
Eles quem? Ah… então você não percebeu que o foco é a participação dos pais para com seus filhos?

Nossas crianças é que são o foco!
Faça por elas o que é necessário; para elas, não para nós!
=]

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Sobre Lizandro Crus Chagas

Carioca, professor, influenciador digital, pai solo e militante da paternidade ativa.

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3 comentários

  1. Oi amigo grandão…
    Gostei muito do que escreveu, longe de achar que está contra nós… mães… rs
    Conheço os dois lados: masculino e feminino e sei que em ambos encontramos pessoas sem compromisso, sem qualquer tipo de responsabilidade, que olham seu próprio umbigo o tempo todo e que até hoje não sabem para o que vieram… imagina se vão saber ser pais.
    E acho lindo quando vejo um homem assumindo um filho com tanto amor, carinho e respeito… São seres admiráveis…
    Parabéns!!!

    • Que bom que consigo passar a ideia de que não sou contra a maternidade e sim a favor de maior valorização da paternidade.
      Mas, você conhece um pouco da minha história e entende melhor meu pensamento.
      Obrigado pelo seu comentário e por lembrar que nem todo mundo pode ser pai ou mãe, pois muitos não gostam de assumir isso e nossa sociedade fecha os olhos para esse mal.
      Beijos grandes do grande!!!
      =]

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