Sou Pai Solteiro sem mimimi

Sou Pai Solteiro sem mimimi

Sai numa matéria de um blog do Estadão, onde conto algumas dificuldades e o tipo de preconceito que pais solteiros passam.

Eu gostei muito da matéria, mas claro, sou parcial para julgar. Apesar de eu ter dito coisas que, óbvio, me agradam, acho que a matéria, escrita por uma mãe solteira, e por isso entendo que poderia muito bem rebater algumas visões que eu poderia passar sobre ou contra as mães solteiras, foi uma proposta bem concluída sobre o tema em questão: “Assim como mães solteiras, pais solteiros têm de enfrentar desafios e preconceitos” – título da matéria.

Em nenhum momento me coloquei acima de mães solteiras. Em nenhum momento desmereci o esforço e o trabalho que tem uma mãe solteira, mas quando a matéria foi postada na fanpage do FaceBook do Estadão, muitos foram os comentários agressivos direcionados a autora e a condição dos pais solteiros.

Eu citei nas minhas falas, registradas na matéria, que mulheres passam por muita pressão e preconceito social e disse que apesar de não passarmos pelo mesmo tipo de problema, nós pais solteiros, passamos por incredulidade de nossa capacidade de cuidar de uma criança.

Não pedi méritos por isso! Não disse que somos melhores do que mulheres nisso! Não quis e nem foi dito por qualquer foco para se interpretar que estou choramingando, reclamando da vida… só estou colocando minhas percepções e experiências nessa vida de solteiro e pai.

Sim, incredulidade é um problema grande para pais.
Muitos são os pais, bons pais, que querem ser ativos na criação de seus filhos e não são aceitos pelas mães, pela justiça ou mesmo por aqueles que o criaram, seus pais, pois de forma generalizada, ninguém acredita que homem é capaz de criar crianças. Sim, somos vistos como coitadinhos, mas será que não é perceptível que é justamente por essa incredulidade que assim somos vistos??

Não, não sou coitadinho. Sim, estou fazendo somente minha obrigação, coisa que todo homem deveria fazer e não, não mereço prêmio nenhum por isso. O único prêmio que quero receber é o futuro saudável e sólido do meu filho, mais nada.

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Nunca pedi aplausos e não gosto de ser chamado de paizão por simplesmente ser pai. Se sou paizão, espero que seja por estar fazendo um bom trabalho, mas repito, não faço mais do que minha obrigação.

Se eu sou um herói para alguns, deve ser porque estamos numa sociedade que cria homens para serem os tais dos provedores, afastados dos cuidados infantis, obrigados somente a cumprir suas funções econômicas e que cresce achando que ser pai não é nada a mais do que isso. Eu faço diferente. Estamos mudando, nossa sociedade está mudando e isso precisa sim ser destacado. E não, não sou o melhor para ser destacado não, mas sou militante a bastante tempo nessa causa e por isso já tenho alguma notoriedade. Orgulho disso? Isso não me faz um pai necessariamente melhor, mas acho que ajuda num processo de valorização da paternidade como um todo. Uma sociedade com uma paternidade mais forte, em equilíbrio com a maternidade, não seria ideal? Eu só espero estar ajudando de alguma forma nessa visão.

Se quisermos que nossas crianças tenham pais melhores, temos que mostrar aos outros homens que não é nenhum bicho de sete cabeças ser pai e que ele pode transformar essa experiência em algo fantástico e, espero eu, que isso se multiplique aos sete ventos. Isso seria o melhor para qualquer criança – pais que entenderam que podem ser pais de forma diferente daquela que lhes foi passado e decidiram mudar e ser mais participativos!
Por isso acho sim que mostrar exemplos seja algo importante, não porque merecemos troféus ou coisas assim.
Se todo homem que cria seu filho sozinho é um herói, então toda mulher que é mãe solteira é uma heroína também. Não é fácil criar uma criança sozinho(a). São muitas as dificuldades e quem passa por isso entende muito bem. Não sou melhor do que uma mulher por fazer isso. Acredito que temos diferenças sociais no modo como somos vistos e tratados, mas isso não quer dizer que isso seja verdade e nem que na prática, fazemos algo a mais do que vocês mulheres.

Acho que o surgimento de homens que queiram ser pais ativos, é o melhor para crianças e sim, acho que sofremos preconceito nesse aspecto sim.
As decisões pela guarda compartilhada ou pela guarda unilateral do homem são quase irrisórias na justiça. Porque? Porque não somos capazes de cuidar? Ou porque somos vistos como incapazes de cuidar de nossos filhos?

Claro que sei, nunca neguei, que a maioria dos pais quando se separam não querem a guarda e tantos outros que abandonam seus filhos, mas será que essa incredulidade não seria um dos fatores que gera esse tipo de pensamento e auto percepção por parte dos homens? Mostrar que há outro caminho e que é muito gratificante não vale a pena? Faz sentido o que eu disse?

Quantas crianças não sofrem por não ter o pai presente? Imagina se pudéssemos mudar isso mostrando a esse pais que podem agir diferente? Quem melhor do que outro homem para mostrar isso a eles? Alguém que foi criado na mesma ideologia social machista e enxergou que não precisa ser assim. Que podemos ser diferentes e isso não nos faz menores ou inferiores, ao contrário, que a experiência é uma das mais enriquecedores que se pode viver!

Sou muito honrado em poder falar sobre isso e espero mesmo estar ajudando a mudar isso. Se eu tiver que ser exemplo de alguma coisa, que seja como debatedor do tema e da problemática, e se eu tiver que ser exemplo de como é ser um pai solteiro, que assim seja e espero ser merecedor desse destaque.

Sim, defendo a matéria, não por ser participante dela, mas por acreditar que mostrar exemplos de pais solteiros pode gerar uma autorreflexão nos homens e nas mulheres, nos pais e mães, possibilitando para nossos filhos, que seus genitores estejam mais próximos deles. Percebendo que é possível ser pai solteiro e que isso gera uma criança com mais afeto, lhes dando mais segurança, autoestima, força e sensibilidade para ser um humano melhor.

 

Força e Honra, Sempre!
Grande abraço do grande!

Sobre Lizandro Crus Chagas

Carioca, professor, influenciador digital, pai solo e militante da paternidade ativa.

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Um comentário

  1. Conheci um pai solteiro há 5 meses. Estávamos os dois recém separados, ele de casamento, eu de noivado. E estabelecemos uma “amizade colorida”. Ele trabalha muito, e sempre está com o filho. Nunca disputei atenção, e nunca faria isso. Pra falar a verdade, eu sou doida por criança, e queria mesmo era conhecer o pequeno.
    Mas bem, queria saber se essa situação de pais solteiros recém separados é realmente assim…negação de relacionamento, não querer assumir, mas querer estar junto de vez em quando, andar de mãos dadas por aí. Por que amigo, minha cabeça tá confusa! Se é comigo, ou se é assim mesmo…

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