Há alguns dias, eu estava lendo um texto sobre a volta ao trabalho após o nascimento dos filhos e estive me lembrando de como foi e ainda está sendo comigo e com o Lucas, agora com quase 3 anos de idade.
Voltei da licença-maternidade quando o Lucas estava com 4 meses. Até então, não tínhamos babá, nós mesmos fazíamos tudo. Durante o período da licença, minha mãe sempre ia passar uma parte do dia comigo, pra me ajudar e fazer companhia (e me enlouquecer um pouco…). Quando voltei a trabalhar, contratei duas pessoas excelentes, de extrema confiança, para cuidar do Lucas enquanto eu estivesse fora, de manhã e à tarde. Elas começaram cerca de um mês antes da minha volta, para que o Lucas pudesse se acostumar, mas na verdade, quem precisava se acostumar era eu… No primeiro dia, chorei inconsolavelmente e olha que nesse dia eu nem saí de casa… Nos dias seguintes, fui me acostumando e quando chegou a hora de passar o dia inteiro fora de casa, já não havia estresse…
Tudo estava ótimo, entrando numa nova rotina… Daí, nós mudamos de cidade quando o Lucas tinha 7 meses. E tudo ficou mais complicado… Optamos por colocá-lo em uma escolinha e tivemos a sorte de encontrar um lugar muito acolhedor e alegre, onde ele se adaptou muito bem.
Quem teve problemas de adaptação, na verdade, fui eu… A questão não era apenas voltar a trabalhar após a maternidade, mas começar uma nova vida do zero, em outra cidade, em outros locais de trabalho, com pessoas diferentes, além dos cuidados com a casa e com o Lucas. Não foi fácil… Sair para os plantões e ficar 12 ou até 24 horas longe do Lucas era penoso demais… Além disso, eu estava muito sensível e era muito difícil para eu encarar o ambiente de sala de parto e UTI neonatal. Então, em uma reviravolta profissional, decidi ficar apenas no consultório, atendendo consultas de pediatria geral, que me permitia manter uma atuação profissional, com horários mais flexíveis. E decidi esperar, me dar um tempo para aceitar todas as mudanças que haviam acontecido e descobrir meu lugar nessa nova vida, nessa nova cidade, como médica e mãe.
O tempo foi passando e hoje, quase 3 anos depois, posso dizer que estou pronta pra voltar ao trabalho. Reduzi minhas horas de consultório e voltei para minha paixão que é a neonatologia… Claro que hoje eu optei por trabalhar muito menos do que eu trabalhava antes dele nascer e pode parecer estranho, mas acostumar-se a trabalhar menos é difícil, principalmente se você está viciada na adrenalina de um dia intenso de trabalho… Ficar 24 horas longe do Lucas ainda é penoso, mas bem menos. Ele e o Marcelo, meu marido, se viram super bem sem mim.
Seria mentira se eu dissesse que não sinto uma ponta de culpa por abrir mão de horas de convívio com meu filho para ir trabalhar, mas a satisfação de fazer o que gosto é muito grande e eu ainda tenho bastante tempo livre para curtir com ele e, melhor, curtir com ele me sentindo bem e realizada.
Infelizmente, não existe um botão que você aperta quando se completam os 4 ou 6 meses da licença-maternidade e te coloca no modo “trabalho” novamente. Às vezes, é necessário muito mais tempo para que você encontre um equilíbrio entre as demandas de ser mãe e as demandas profissionais. Talvez você tenha que mudar sua relação com o trabalho em favor da relação com o seu filho, talvez você tenha que abrir mão ou adiar pretensões na carreira, talvez você precise rever seu estilo de vida…
É bem possível também que você tenha que lidar com a expectativa alheia. Uma vez, nesse período em que eu estava apenas meio período no consultório, fui questionada: “E quando você vai voltar a trabalhar de verdade?” Hein? Trabalhar de verdade? Cuidar de uma criança pequena e da casa É trabalho de verdade, também cansa, estressa e, infelizmente, não tem muito reconhecimento.
Respeite seu próprio tempo e suas convicções. Saiba abrir mão de algumas coisas para ganhar outras. Não defina sua identidade pessoal pela sua profissão ou emprego, pois você agora precisa agregar à sua identidade pessoal sua função materna e ela é infinitamente mais valiosa, pois não diz respeito somente a você. Aprenda a dar a si própria valor e reconhecimento por ser mãe.