Idade certa para o ensino

Há poucos meses, me deparei com uma medida em que eu não tinha muito conhecimento, a da proibição de crianças menores de 6 anos entrarem no ensino fundamental.

Thomaz, meu filho, está com 5 anos e não havia passado pela minha cabeça, acelerar ele de turma, passando ele para o fundamental, pois acredito que ele não está capacitado para isso ainda, “ainda”. Mas… já haviam certos questionamentos na minha cabeça sobre a educação infantil no Brasil.

Sou professor licenciado de geografia do segundo ciclo do fundamental e do médio, isso quer dizer que sou capacitado para dar aulas para o sexto ano do fundamental até o terceiro do médio, só pego de pré-adolescentes (acima de 11 anos) até o final do ensino escolar. Nunca lidei com a educação infantil, mas ao longo dos meus anos acadêmicos e profissionais, e agora como pai de um aluno do infantil, andei me fazendo alguns questionamentos…

Ok, precisamos criar uma idade mínima para cada série. Isso facilita a socialização, mesma idade, mesmas capacidades motoras, todos estão no mesmo nível de desenvolvimento psíquico, mas… serão mesmo TODOS que estão assim?

E como ficam os gênios?

Acredito que não são todos no mesmo nível não.
O Brasil não tem uma política educacional capacitada para os chamados superdotados, ou os gênios. Ao longo dos meus 15 anos de profissional, já me deparei não exatamente com supergênios, mas com uns 5 alunos que estavam a anos luz de distância do resto da turma. Que já poderiam estar na faculdade desde o primeiro ano do ensino médio. Tinham maturidade, capacidade, intelectualidade, independência de aprendizado e que me davam “trabalho” em dar aula, pois tudo era fácil para eles, enquanto que eu tinha que perder um grande tempo com o resto da turma explicando a matéria. Tinha eu, que procurar “complicar” o ensino para eles, aprofundar, ampliar, passando outras atividades só para eles.

Lembro que um professor de química amigo meu, que dava aula para um desses alunos também (chamarei o aluno de D.T.). Durante a aula de química, esse professor jogava xadrez em sala com o D.T., enquanto a turma ficava quebrando a cabeça resolvendo exercícios que o D.T. já tinha resolvido enquanto o professor estava explicando. O xadrez era para manter a cabeça do D.T. ocupada para não dormir em sala, não ficar puxando conversa com outros alunos e atrapalhar esses, era para motivar ele, lhe dar algum desafio, já que o ensino convencional era fraco para ele.

O Brasil não consegue ver as especificidades da educação.
Não falo só dos alunos gênios não, mas há aqueles que avançam mais rápido em uma matéria do que na outra, há alunos que os pais se esforçam para que o filho estude melhor, dando exercícios a frente do resto da turma e a escola acha isso ruim, pois não pode dar desafios diferenciados para cada um. A maior parte das escolas não tem estrutura para lidar com essas especificidades e preferem então tratar a todos como iguais.

Aconteceu algo assim com um garoto com quem eu estava dando aula particular. Eu queria fazer os exercícios do livro dele, mas o professor ainda não havia passado. Eu pensei: “E daí? Vamos fazer mesmo assim”. O garoto ficou preocupado de que isso fosse lhe trazer problemas. Não é que ele estava certo? Liguei para o pai dele para questionar sobre fazer os tais exercícios e o pai disse: – “se você fizer os exercícios antes do professor, se você ensinar antes do professor, qual será a função da escola?” Eu pensei: – “Não mudou em nada… o professor não tem que ficar preso a um livro… ele tem que continuar ensinando, propondo desafios, nem que tenha que passar outros exercícios para esse garoto específico, o que não pode é atrasar o ensino de ninguém. Se eu, como professor, achei que ele poderia avançar, porque impedir isso?” Mas… me calei, pois não iria discutir com “tamanha” preocupação do pai. Passei outros exercícios para ele e seguimos presos ao imperativo da aula.

Foto: Steve Woods
Foto: Steve Woods

Limitações no Ensino

A escola tem que saber lidar com cada caso e a lei não pode proibir isso, tem que regulamentar, mas proibir não.
Se um garoto de 16 anos tem um Q.I. grande o suficiente, porque ele não pode entrar numa faculdade? Se um garoto de 5 anos tem o potencial para entrar no ensino fundamental, porque impedir isso?

Eu ensino letras e números para o Thomaz desde os 2 anos e pouco de idade e quando perceberem que ele já desenha bem e que já pode escrever bem, vão me recriminar por ter adiantado ele? Uma amiga professora disse: “Mas assim ele vai ficar entediado em sala de ter que “aprender” o que ele já sabe e vai se comportar mal”. Oras… então que a escola dê para ele outras atividades, outros desafios… já que adiantar de série é “proibido”.

Eu acho que o Brasil está aquém no ensino básico. Vejo muitos países avançando em sociedade e economia por uma questão fundamental, melhoria da educação, mas no Brasil preferimos discutir maioridade penal e cotas raciais ou sociais, ao invés de resolver o problema na base, na origem, na educação de qualidade para todos. Países como Finlândia, Japão e Suécia são grandes países por dar educação gratuita de qualidade para todos e nós ainda estamos discutindo se isso é coisa de comunista ou não.

Enquanto não fizermos algo para melhorar lá na raiz do problema, vamos preferir proibir o acesso de menores de 6 anos ao ensino fundamental. Nunca seremos uma nação avançada, se não pudermos avançar nossa educação. Vamos sempre ser uma nação média, com uma educação de “mérdia”.

Pense nisso.

Sobre Lizandro Crus Chagas

Carioca, professor, influenciador digital, pai solo e militante da paternidade ativa.

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