Andei questionando umas afirmações a qual tenho sido empregado, adjetivado, mas que acho que há alguma distorção nisso tudo. Tenho ouvido algumas pessoas dizerem que sou um exemplo de pai… que sou uma raridade… que sou até mesmo um pai herói por criar meu filho sem nenhuma ajuda…
Olha… não quero de forma nenhuma menosprezar o sentimento positivo que recebo com essas afirmativas e nem o carinho que me é passado, mas não sou nada disso, sou somente um pai que pode praticar sua paternidade.
Ao longo dessa caminhada em valorizar a paternidade, tenho visto muitos pais que sonham em poder fazer o mesmo que eu. Pais que separados das mães de seus filhos e que desejam mais do que muitas outras coisas, poder exercer parte do que eu faço. Vi também pais casados que são tolidos muitas vezes por suas esposas ou por preceitos sociais estabelecidos e que acham que não sabem lidar com crianças e por isso não o fazer ou que então não se “misturam” com os afazeres domésticos. Vi também homens que simplesmente relegam toda e qualquer atividade as mães e se preocupam somente na “diversão” com os filhos, mas vi também outros que são tão ou mais ativos do que as mulheres no exercício de cuidar das crianças… Bem, isso me levou a pensar sobre o seguinte…
Eu não sou herói, sou somente um pai.
Pai herói, é aquele que se mata pelo filho; que constrói uma cadeira especial para poder correr numa maratona com um adolescente com paralisia cerebral; que contrabandeia canabidiol (remédio extraído da maconha, que era ilegal no Brasil até pouco tempo) para poder fazer um tratamento para seu filho que tem crises crônicas de epilepsia, mesmo sabendo que pode ser preso por contrabando de drogas; é o cara que vive uma vida de miséria social, financeira e de bem estar pessoal para poder garantir o melhor para sua cria… eu não precisei fazer nada disso ainda.
Eu faço o que todo pai deveria fazer, o mínimo. Lavar louça, fazer comida, “sacrificar” o meu próprio fim de semana, acordar para ir para a escola e buscar depois, fazer as lições de casa, dar banho e tantas outras coisas que sim, são desgastantes, mas que são mínimas. É uma obrigação que me consome, mas que faço sem pestanejar, assim como toda mãe solteira (decente) faria.
Sei que represento uma fatia pequena de pais.
Muitos conhecem casos de pais que simplesmente abandonam seus filhos… largam aos cuidados da mãe e se transformam em “pai quando dá”, pegando muito de vez em quando, mas… acho que esse modelo não é único, que há uma leva atual de pais que querem ser participativos, ativos e que muitas vezes tem muitos impedimentos para isso. Impedimentos da sociedade que não vê com bons olhos um homem “ganhar” de uma mulher o direito de ter os cuidados de uma criança; de mulheres que cresceram acostumadas com a ideia de serem donas de seus filhos, quando na verdade, não o são, e por isso não querem dividir a guarda da criança com o pai; dos próprios pais que foram criados dentro de um modelo em que eles têm que ser somente os provedores e foram adestrados a crer que não são capazes de cuidar de uma criança sozinhos, que sempre precisarão de uma mulher por perto… fomos criados sob preceitos morais e sociais que castram a disposição natural que pode surgir num homem para cuidar de uma criança.
Eu mesmo me percebi assim.
A primeira criança recém nascida que peguei no colo, foi meu afilhado, quando eu já tinha mais de 30 anos. O meu amor por ele me fez quebrar uma barreira invisível, mas presente, de que não é coisa de “homem” se relacionar com o mundo dos bebês. Essa barreira me perseguiu por 30 anos e eu não tinha me dado conta, até perceber que eu nunca tinha me relacionado com bebês de fato, sempre mantive certa distância por ouvir a vida inteira que homem não sabe lidar com isso, então eu evitei “fazer besteira”. Que idiotice!
Numa entrevista do qual participei num canal de televisão, ouvi um pai dizer que na hora que ele foi pegar seu filho pela primeira vez no colo, ouviu uma parente dizer: – “dá ele aqui que homem não sabe lidar com bebês!” – Ele teve consciência na hora e disse: – “Calma lá… ele é meu filho e eu vou pegar ele quando e como eu quiser, nem que eu tenha que aprender como fazer e lidar com isso, mas ninguém vai me impedir.”
Um pai fazer ou ajudar nos afazeres de uma criança, não faz mais do que sua obrigação. É sua responsabilidade também e seu dever prover, aí sim, não só o dinheiro para a casa, mas principalmente, as necessidades de sua cria.
Enquanto não fomentarmos numa sociedade, essa abertura para uma normalidade do trabalho e participação paterna, nunca teremos um equilíbrio e uma harmonia para o principal objetivo de toda essa discussão: o bem estar de nossas crianças.
Continuo agradecendo de coração todas as vezes que me chamam de herói ou de super pai, mas faço somente o que é necessário, ser um bom pai.
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