Voltando lá nas histórias das cirurgias….para quem acompanha, havia parado no quarto procedimento cirúrgico.
Depois de um tempo, dores na bacia! Então vamos ao quinto procedimento e todo aquele sofrimento já descrito antes, para o congelamento do tumor. Dias no Hospital, dor, a distância da Sofia….
Como sempre, minha recuperação foi muito boa, voltei pra casa e já estava próximo dos exames de rotina, e fazer esses exames para quem tem câncer é como abrir uma caixa de surpresa, nunca se sabe o que vai encontrar, por isso eles causam tanto sofrimento, tanto medo, tanta angústia, quase que uma dor no coração, mas não tem como fugir deles, então vamos às fóbicas ressonâncias, que me fazem chorar compulsivamente TODAS as vezes que entro no laboratório e ouço aquele barulho quase que ensurdecedor.
Exames feitos, resultados nas mãos, e como não abri-los?! Juro que tentei por um tempo, mas não dá! Minha vida está ali dentro daquele envelope! Abri, e logo li que no meu fígado haviam lesões nodulares. Liguei para minha médica Dra. Cândida e ela pediu que fosse ao consultório no dia seguinte.
A sala cheia de médicos, todos analisavam as imagens e eu e Daniel abraçados esperando alguma resposta. Eu tremia! E Daniel me apertava e pedia calma.
“É Lu, teremos que entrar com a quimioterapia endovenosa”. Minha primeira pergunta: “Ficarei careca? Sim, essa quimio faz cair todo o cabelo…”
Meu mundo caiu novamente, eu chorava de soluçar ali na frente de todo mundo, sem pudor. O Daniel também chorou e me abraçava o mais forte que podia. O tratamento começaria em dias, o meu oncologista Dr. João Evangelista me disse que 14 dias após a primeira quimo os cabelos já iriam cair.
Eu e Daniel conversamos muito a respeito (eu sempre tive cabelos longos, loiros e bem tratados, sempre os adorei), e então eu cheguei a conclusão que não queria usar lenço, que ficava com muita cara de câncer, disse que preferia peruca. Daniel pediu que eu fosse à loja de perucas e comprasse aquela que eu mais havia gostado, independente do preço. Além de um marido e uma pessoa maravilhosa, foi extremamente generoso. OBRIGADA NA!
Fui à loja de perucas com minha irmã, que me ajudou a escolher e nesse dia achei melhor já cortar bem o cabelo para não estranhar tanto quando tivesse que raspar a cabeça. Peruca escolhida e então veio o cabelereiro e começou a cortar pedaços “enoooooormes” do meu cabelo. Olhava para o chão e parecia não acreditar!! Me senti tão triste, chorava tanto, mas tanto, que não consigo expressar porque só de escrever e me lembrar estou em prantos. Saí do salão com os cabelos batendo no queixo e já com a peruca, assim já iria me acostumando com aquele novo visual.
Comecei o tratamento de fato, extremamente pesado! Quatro dias seguidos por mês de infusão na veia, no último (sexta-feira), eu já não entendia mais o que as pessoas diziam, saía do Hospital completamente transtornada. E como o médico disse, duas semanas depois, ao tomar banho e lavar os cabelos, saiam chumaços em minhas mãos … mais uma vez desabei, fiz uma oração e pedi forças a DEUS. Saindo dali eu ligaria para pedir a minha irmã para vir em casa raspar de vez meu cabelo.
Saí, me troquei, coloquei um banco frente ao espelho do meu quarto, forrei o chão com jornal. Chegou minha amiga Ju em casa e eu contei o que iria acontecer. Ela tem um astral incrível e foi bom tê-la ali. Minha irmã chegou, dei a ela os apetrechos necessários, novamente fiz uma oração e prometi que pela SOFIA, que estava presente, não derramaria uma lágrima sequer.
Que momento triste! Mas cumpri o prometido, nenhuma lágrima e poucos fios minúsculos de cabelo na cabeça. Levantei fui ao banho novamente, passei as mãos na cabeça, que sensação estranha!!! Segurei firme, mas evitava me olhar no espelho … eu já não me reconhecia mais.
Esse era o meu cabelão |
Foto tirada em novembro de 2013 |
Foram seis meses de puro sofrimento, pois no intervalo de uma quimio e outra eu ficava de cama. Entendi que os cabelos por mais importantes que fossem e o tanto que me deixavam mais bonita ficaram em segundo plano, que eu fiquei feia sim! Mas que o mais importante era minha VIDA e não minha beleza. Entendi que a vida não tem dó e quando você precisa passar por algo difícil, o mais fácil é aceitar do que se deixar abater e se revoltar, porque quando aceitamos os desafios da vida parece que tudo fica um pouco mais leve.
Esse post foi um dos mais difíceis de escrever porque sempre me escondi atrás de lenços e peruca! E me expor não está sendo nada fácil, espero que minhas palavras ajudem mulheres que passaram ou irão passar por isso. Acreditem, NÃO É O FIM DO MUNDO!
O importante é estar VIVO!!!!!
Hoje já estou bem diferente, meus cabelos estão crescendo e continuo lutando!
Força, Fé e Coragem!
Beijos
Lu
Que relato forte e profundo!!
Admiravel sua verdade…
Deus é grandioso!!
Força vc é uma guerreira cheia de luz!!
Que bom que já passou, Lu!
eu também tive câncer e fiquei sem cabelo. só que não quis nem lenço nem peruca. Meu cabelo não me define, de verdade. Talvez o fato de preferir cabelos curtos (odeio cuidar de cabelo) tenha ajudado.
sabe o que gostei? MESES SEM PRECISAR DEPILAR! Falaí que é uma bênção, vai!
nenhum pelinho nas pernas, nenhum pelinho na axila… lisinhas. Ai que delícia.
força mulher!
Beijo
“Entendi que a vida não tem dó” põe muita gente pra chorar. Chorar meeesmo. Foto com zoom, lente objetiva e sem filtros!
Doeu.
Ser fato!
Mas tudo bem… “Porque quando aceitamos os desafios da vida, parece que tudo fica um pouco mais leve”!
A mão q apedreja é a mesma q acaricia…. Rsrsrs. E, no caso, a mesma q escreve dores e alívios! 🙂
Amo vc!
Obrigada pelo carinho do alto astral… Servimos bem para servir sempre!!!
Força aí, você é uma vencedora. Tudo vai passar. Bj