A Criança Diabética
Irei focar este texto em crianças com diabetes mellitus tipo 1, pois perfazem a maioria dos casos de crianças com diabetes.
O pâncreas é um órgão que fica no abdômen e tem muitas funções, parte dele produz sucos responsáveis pela digestão dos alimentos, outra parte produz insulina. A insulina é um hormônio que faz com que o açúcar que está no sangue entre nas células e estas o utilizem para produzir energia e se manterem vivas.
Pois bem, uma criança ou adolescente desenvolve diabetes tipo 1 quando a parte do pâncreas que produz insulina entra em colapso e passar a não conseguir mais produzir insulina. Isso acontece, na maioria das vezes, por uma agressão autoimune ao pâncreas, ou seja, o sistema de defesa do organismo (sistema imunológico), que defende o organismo contra infecções destruindo micróbios que tentam invadir nosso corpo, acaba por destruir, de forma irreversível até o momento, a parte do pâncreas que produz a insulina.
Por isso, nas pessoas com diabetes tipo 1, FALTA INSULINA e o tratamento baseia-se na reposição de insulina.
Quando iniciar o tratamento com Insulina?
Teoricamente, quando a criança ou adolescente apresenta os sintomas de diabetes é porque resta menos de 20% da sua capacidade de produzir insulina. Por isso o tratamento com insulina deve ser iniciado assim que se faz o diagnóstico.
Infelizmente todos os tipos de insulina de que dispomos para o tratamento são injetáveis, ou seja, desde os primeiros momentos de doença a criança e sua família terão de se adaptar a uma rotina de algumas injeções de insulina todos os dias. Essas injeções não são dolorosas, porém são injeções.
Qual o melhor tipo de Insulina?
Essa é uma pergunta difícil de responder, pois temos de levar em consideração vários fatores. Quando vou definir qual tipo de insulina usar em meus pacientes eu procuro saber em primeiro lugar a qual tipo de insulina esse paciente terá acesso. Digo isso pois a maioria dos serviços públicos de saúde fornecem insulina NPH e insulina regular. Os análogos de insulina ainda são um pouco caros para muitos pacientes.
As insulinas NPH e regular têm o lado bom de serem de fácil acesso, porém apresentam picos de ação que favorecem hipoglicemias. Os análogos de insulina de longa duração (insulina glargina, insulina detemir) praticamente não apresentam pico de ação, portanto são mais previsíveis e diminuem o risco de hipoglicemias. Os análogos de ação ultrarrápida apresentam pico de ação em torno de 45 a 60 min após a aplicação, sendo melhores para cobrir os momentos pós refeição que a insulina regular, a qual apresenta pico de ação 2 a 3 horas após a aplicação.
Quantas aplicações são necessárias por dia?
Essa pergunta também é difícil de responder pois varia muito de pessoa para pessoa. No início da doença, logo após o diagnóstico, como parte do pâncreas ainda produz insulina, fica mais fácil controlar o diabetes com poucas aplicações por dia (uma ou duas), porém com o passar do tempo, as necessidades de insulina vão aumentando e as vezes são necessárias 4 ou mais aplicações (uma para a insulina de longa duração e mais 3 ou 4 aplicações de ultrarrápida, conforme a alimentação).
Também preciso medir a glicemia capilar?
Sim, as medidas da glicemia capilar (conhecidas por muitos como dextro ou ponta de dedo) são extremamente importantes, pois são elas que revelam se o controle do diabetes está adequado, se está alto ou baixo em algum período do dia ou em alguma situação especial.
Devemos fazer medidas pelo menos 4 vezes ao dia, ou seja, quando acorda, antes do almoço, antes do jantar e na hora de dormir. Claro que quanto mais medidas fizermos por dia, melhor será a análise do nosso controle. Os horários 1 a 2 horas após as refeições também são muito importantes, por isso devemos fazer nesses horários também.
Então quantas picadas meu filho tem de receber por dia?
Infelizmente, até o presente momento, se somarmos as picadas para insulina e as picadas para dextro, chegamos a conclusão de que a criança tem de receber, no mínimo, cerca de 6 a 8 picadas por dia. Aceitar essa situação é fundamental para um bom controle do diabetes.
Enfim, o que é um bom controle do Diabetes?
Até agora citamos várias vezes essas palavras “bom controle do diabetes”, mas o que é isso? Na verdade o objetivo do tratamento do diabetes é que os níveis de açúcar no sangue do diabético sejam iguais aos das pessoas não diabéticas e que os diabéticos possam atingir essa meta com boa qualidade de vida e felizes, evitando assim as complicações do diabetes.
Existem vários critérios biológicos que definem o bom controle, porém em última análise, se conseguirmos manter nossas glicemias entre 80 e 160 mg por dL com certeza estaremos bem próximos do bom controle.
E a alimentação do Diabético? Tem que ser muito diferente e especial?
Para encerrar este texto vou falar sobre a alimentação para quem tem diabetes. Por incrível que pareça, a alimentação para quem tem diabetes deve ser saudável e EXATAMENTE IGUAL a alimentação saudável para os que não são diabéticos. Em artigo anterior nós demos um exemplo de alimentação saudável, pois bem, as crianças diabéticas devem seguir as mesmas orientações, ou seja, alimentar-se de coisas naturais e simples a cada 3 horas mais ou menos.
E os doces? Os doces devem ser evitados por todos e só serem consumidos em pequenas quantidades em caráter de exceção. Se o controle do diabetes estiver bom e o paciente e sua família souberem manejar bem as insulinas, as crianças diabéticas podem comer doces de vez em quando. O que não pode (para quem tem ou não diabetes) é comer doces todos os dias.
Como diabetes é um assunto muito longo, vamos parar por aqui hoje, no futuro falaremos de sistema de infusão contínua de insulina (bomba de insulina), dentre outros assuntos.
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