Antes do meu filho Lucas nascer, eu trabalhava em maternidades e hospitais-escola, mergulhada no meio acadêmico, onde, em teoria, as coisas são feitas da forma mais correta possível… E tive sorte de passar muitos anos em um meio acadêmico de excelência, em Ribeirão Preto, onde aprendi muito, vivi experiências enriquecedoras e convivi com pessoas muito queridas e especiais, dedicadas à boa medicina e aos cuidados com as crianças.
Durante a gestação do Lucas, comecei a ler alguns livros sobre maternidade, como o excelente “A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra”, da Laura Guttman. Gente, eu queria largar tudo e ir trabalhar com ela lá em Buenos Aires! Comecei a perceber que a sensação que eu tinha de que ser mãe era uma experiência muito mais profunda do que parecia estava correta. Afinal de contas, não podia ser só comprar toneladas de roupinhas, preparar o quarto e ficar esperando… O que eu buscava era o tal protagonismo da mulher na vivência do ser mãe, na gestação, no parto, na criação dos filhos e na construção da família. E é engraçado pensar que mesmo estando em contato com esse mundo por tantos anos, trabalhando em maternidades, recepcionando bebês em sala de parto, passando visita em alojamento conjunto, eu nunca havia parado para refletir sobre a grandiosidade desse assunto.
Sempre achei o nascimento de uma criança um momento especial (tanto que me especializei em neonatologia…), mas fui engolida pelo automatismo do dia-a-dia e pela rotina estressante. Afinal de contas, é meio difícil para o profissional (que é um ser humano…) enxergar a beleza do nascimento de um bebê às 4 horas da manhã, já no fim de um plantão de 24 horas, que provavelmente será seguido de mais um dia de trabalho… Mulheres em trabalho de parto, nascimentos e recém-nascidos eram o meu “todo dia sempre igual”.
E, de repente, eu estava do outro lado; eu era a gestante, eu entraria em trabalho de parto, eu receberia um recém-nascido nos braços, eu iria amamentar… Acreditem: nessa hora ser pediatra não faz diferença nenhuma… Pelo contrário, conhecer os aspectos biológicos e patológicos do processo e, em especial, saber tudo o que pode dar errado, é bem assustador… Mas eu escolhi encarar meus medos, minhas inseguranças. Eu queria ser parte principal do processo junto com meu bebê (e o pai, claro…). E posso dizer que fiquei muito satisfeita com a forma como tudo aconteceu…
Contei toda essa história para dizer que é preciso querer enxergar a profundidade de todo o processo que envolve gerar um bebê e é preciso querer vivenciar certas experiências ligadas à maternidade. Não é só uma questão de parto normal ou cesárea, mas sim toda uma reflexão durante a gestação, que amadureça o corpo e o coração para se tornar mãe.
O que ser mãe significa para mim? Não existe uma resposta “certa” para essa pergunta, cada mulher sente brotar a resposta em seu coração e em diferentes momentos da vida essa resposta pode ser diferente. Acredito que fazer essa pergunta a si mesma é o ponto inicial da maternidade consciente.