Como vocês sabem, além de advogada que atuo na área da Educação, tenho pós em Neurociências e Psicologia Aplicada. O que me motivou a fazer esta pós foi o meu grande envolvimento com a área da superdotação, por conta da história dos meus filhos, que são crianças superdotadas e que eu tive que utilizar dos meus conhecimentos jurídicos, para que eles tivessem suas necessidades educacionais atendidas. (Saiba mais em: A maravilhosa experiência de ser mãe de duas crianças superdotadas e A superdotação dos meus filhos refletiu na mudança do meu rumo profissional)
Por conta, então, da história dos meus filhos, passei a pesquisar muito sobre superdotação ; criei um blog, que é o Mãe de Crianças Superdotadas e um grupo no Facebook, que leva o mesmo nome do que o meu Blog e foquei minha carreira profissional de advogada para a área do Direito de Educação. Mas, ainda achei que era pouco, e fui fazer a Pós Graduação em Neurociências e Psicologia aplicada, para complementar a minha formação, na área do Direito de Educação Especial. Dentre as minhas áreas de pesquisa, existe uma que tenho um apreço especial e grande interesse, que é quando alunos superdotados apresentam outra condição que dificulte o aprendizado do aluno superdotado ou o seu bom desenvolvimento físico, emocional ou comportamental.
Para quem ouve falar da primeira vez, pode parecer meio louco, que uma pessoa que seja superdotada, que tenha um potencial cognitivo muito superior em relação aos seus pares, possa ter algum tipo de dificuldade de aprendizagem, comportamental ou emocional. Mas, isso acontece sim ! E não é pouco, não. E, por não acontecer pouco, que eu gostaria de chamar a atenção de vocês, leitores, para saberem que, o fato de uma criança ser muito inteligente, não significa que ela não possa ter dificuldade de aprendizagem, ou que o seu emocional ou desenvolvimento comportamental não possa estar prejudicados. E o inverso também é verdadeiro. O fato de uma criança ter alguma dificuldade de aprendizagem, emocional ou de comportamento não significa que ela não é inteligente ou que não possa ser muito inteligente.
Muitos pais me escrevem, seja através do meu Blog ou do meu grupo no Facebook, tentando entender este fenômeno, sem saber que se trata da dupla excepcionalidade. Alegam que seus filhos são muito inteligentes, mas ….. que apresentam alguma dificuldade que prejudica o seu desempenho ou desenvolvimento e os pais não entendem o que que é. Não conseguem entender que a pessoa pode ter mais de uma condição simultaneamente e que todas estas condições merecem a devida atenção.
Na prática, o que tenho mais visto no meu grupo do Facebook, e que depois têm seus diagnósticos constatados por avaliação neuropsicológica e/ou multidisciplinar são os casos dos alunos com superdotação e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), ou superdotação e Asperger (uma espécie de autismo leve que causa dificuldades na adaptação da criança ao ambiente, dificuldades de se relacionar, comunicar, manias, pensamento rígido, apresenta estereotipias, interesses específicos, dentre outras características), superdotação e TOD (Transtorno de Oposição) e Superdotação e Dislexia. Estas são as condições que mais verifico dentre as crianças do meu grupo, não impedindo, entretanto, da criança apresentar outro tipo de condição, que será identificado pelo profissional que lhe avaliar.
O fato é que há muitos mitos em torno da criança ou pessoa superdotada e um deles é a de que ela é perfeita, sabe tudo, é muito maduro e não tem dificuldades. Mas, isto não é verdade ! Outro mito é o de que a criança superdotada é um gênio. Ela não é ! Ela, apenas, tem uma grande facilidade de aprendizagem e um potencial cognitivo muito acima de seus pares, que a leva a necessitar de aprofundamento de conteúdos, em sala de aula, para que fique motivada e não se entediar. Mas, apesar do aluno superdotado ter um excelente potencial cognitivo, pode acontecer do aluno superdotado ter dificuldades, por conta desta outra condição que ele também apresenta (dizemos que são condições que coexistem numa pessoa). E, que se estas duas condições não forem descobertas, identificadas e cuidadas, as duas irão causar prejuízos ao aluno. É isso o que os profissionais chamam de dupla excepcionalidade (mais de uma excepcionalidade presente na mesma pessoa).
Por isso que eu sempre chamo a atenção para a importância de uma avaliação criteriosa, a ser feita por uma equipe multidisciplinar, caso a criança apresente dificuldades em seu comportamento, desenvolvimento ou aprendizagem, em mais de um ambiente. De início, minha sugestão é para que os pais que se encontrem nesta condição procurem um neuropsicólogo e/ou um neuropediatra, que lhe dará as orientações iniciais. O neuropsicólogo irá fazer uma avaliação neurobiológica para averiguar como é o potencial cognitivo da criança e se existem questões emocionais que possam lhe estar prejudicando. Uma vez feita a avaliação neuropsicológica, se esta apontar como hipótese diagnóstica ou indícios de alguma das condições que eu acima apontei, este encaminhará o paciente para um neuropediatra ou psiquiatra, conforme for o caso, para a complementação de exames e avaliações. Exames neurológicos podem ser solicitados , para descartar eventual lesão ou doença neurológica que possa estar afetando o desenvolvimento da criança ; exames de vista com oftalmologistas especialistas em transtornos de aprendizagem ou de comportamento ; exames auditivos (com fonoaudiólogo, sendo de grande relevância a realização de um exame chamado processamento auditivo, para apurar eventual déficit de processamento auditivo). Enfim, descartar todas as possibilidades clínicas e biológicas, que estejam afetando e prejudicando o bom desenvolvimento da criança e com isso atingir um diagnóstico mais preciso e orientação em relação ao seu tratamento.
Os pais devem saber que, quanto antes for identificada a condição que a criança apresenta, melhor será o seu prognóstico. Por isso, pais, em se tratando de alguma dificuldade de aprendizagem, de comportamento ou de desenvolvimento, estamos correndo contra o tempo, ainda que a criança seja extremamente inteligente !
Bjs
Claudia
- Uma equipe multidisciplinar pode ser composta de neuropediatra, fonoaudiólogo, psicopedagogo, neuropsicólogo, psiquiatra.
Obrigada Dr. Cláudia,
Desculpe-me pela demora.
Vamos fazer um primeiro contato com Santo André e com sua equipe.
Na verdade talvez os dois tenham a mesma distância da Praia Grande. Verei com meu irmão.
Farei o primeiro contato por telefone (11) 3511 3853.
Muito obrigada mais uma vez.
Um abraço,
Andrea
Dra. Claudia,
Estou muito preocupada com minha sobrinha de 12 anos. Sei que sou leiga no assunto, porém pelo que tenho visto do comportamento dela e lido, ela apresenta as características da dupla excepcionalidade. A mãe dela tb desconfia, e apesar de ela ter tido/estar tendo acompanhamento de vários profissionais, me parece que não são todos que tem essa leitura, ou talvez conhecimento para fazer um diagnóstico correto.
Existe algum profissional que a senhora indique? Eles moram no litoral paulista, Praia Grande. Meu irmão e minha cunhada desde que ela foi pra escola, iniciaram uma jornada de grandes batalhas, estudos, mas também muita perseguição o que está causando uma doença familiar, acho que posso me expressar assim.
Está sendo um longo percurso que parece não ter fim.
Precisamos urgente de um profissional competente!
Obrigada pela grande ajuda.
Andrea
Andrea,
A profissional mais próximo que conheço de vocês atende em Santo André : LUCILEIA GONÇALVES FERREIRA – Psicóloga e neuropsicóloga, especializada em psicopedagogia.
Fica na Rua Rotary, 26, Vl. Assunção, Santo Andre, Tel. 3438-0589
Caso vocês tenham disponibilidade de virem a SP, indicarei a minha equipe multidisciplinar, composta de neuropsicólogo e psiquiatra para comporem o diagnóstico.
Atenciosamente,
Claudia Hakim