A ideia de começar a escrever esses textos para o blog surgiu de uma necessidade de expressar o que eu sinto a respeito de ser mãe e como a maternidade afetou a forma que eu encaro minha profissão de pediatra.
Minha área de especialização na pediatria é neonatologia e por vários anos trabalhei com recepção de recém-nascidos em sala de parto, alojamento conjunto e unidades de terapia intensiva neonatal. Alguns meses após o nascimento do meu filho Lucas, há 2 anos e meio, nós nos mudamos de cidade e, por diversos motivos, acabei me afastando da neonatologia e comecei a trabalhar com pediatria geral em consultório. E então eu percebi que “o buraco é bem mais embaixo…”. Acho fantástico o trabalho em maternidades, sala de parto, cuidados iniciais ao recém-nascido, início da amamentação… Com certeza, uma assistência bem feita nessas circunstâncias proporciona um início tranquilo dessa jornada tremenda que é ser mãe. Mas esse é apenas o início… Chegar em casa com um bebezinho nos braços e começar a viver o dia-a-dia de mãe é um desafio que se renova a cada momento e o seguimento desses bebês em consultório tem me ensinado que a maternidade se constrói aos poucos e que paralelamente ao desenvolvimento de uma criança tem que haver também o desenvolvimento de uma mãe.
O que atualmente me encanta é a prática da puericultura, que a meu ver é a base (talvez um pouco esquecida e desprestigiada) da pediatria. É um termo pouco conhecido do público em geral; é o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança de forma integral, abordando seus aspectos físicos e também emocionais, sociais e culturais. Em princípio, todo pediatra é um puericultor, mas hoje em dia a prática tem ficado um pouco pra escanteio no meio de tantas subespecialidades e da priorização dos atendimentos em pronto-socorro. Há quem diga que a puericultura é uma grande utopia, incapaz de ser realizada na prática… Péssima remuneração das consultas, que reflete em grande volume de pacientes e tempo reduzido de consulta, que impede a criação de um vínculo real entre a mãe e o pediatra… A alta rotatividade de médicos e de pacientes nos convênios… A cultura do imediatismo, que entope os pronto-socorros e resolve muito pouco… O desinteresse de muitos médicos, que vão perdendo o idealismo da época da faculdade (compreensivelmente, visto o caos da saúde em nosso pais…).
Bem, eu ainda me recuso a desistir da minha utopia. Mesmo que a mãe queira apenas um remédio pra tosse, eu pergunto sobre a alimentação, o sono, dificuldades escolares e comportamento, etc… Eu acredito na pediatria que vai além do tratar doenças… Acredito na pediatria que capacita a mãe em suas funções, que ouve suas angústias e dá apoio, tentando encontrar soluções dentro da realidade que aquela família vive… Acredito na pediatria que enxerga a criança como um ser-humano, lindo, fantástico, cheio de sonhos e possibilidades… Acredito na pediatria que trabalha a favor do bem-estar da criança e da família, do brilho nos olhos dos pequenos e de suas mães…
Acho que ando meio sonhadora ultimamente, mas o que seria da vida sem os sonhos…
Meus filhos tem um pediatra assim, e é muito legal! Ele é um senhor já, desses que já viu de tudo nessa vida, e não se abala com nada. Toda consulta tem mil recomendações e mil perguntas, e ele leva bastante em consideração o que é possível e o que não é pra cada família.
Que bom, Mariana! Hoje em dia a figura do pediatra está um pouco desgastada e é preciso cultivar a relação entre o médico e a família para um atendimento adequada à criança…