Mãe com câncer: perdi a apresentação de dança da minha filha na escolinha

Olá  amigos, venho  dividir mais um pouquinho da minha história com vocês.
Em primeiro lugar gostaria que minha mensagem, meu “grito”, chegue até as Mamães que estão com  câncer e que acharam em algum momento que não pudessem suportar. É importante para nossa cura pararmos de nos esconder atrás da doença. Tudo fica mais fácil, mas, ao mesmo tempo, mais doloroso quando aceitamos e encaramos de frente, peito aberto, e tentamos lutar bravamente contra o medo, a dor ameniza e conseguimos enxergar a possibilidade de cura.

Volto no ponto chave da questão, nossos filhos. Como reagem, o que sentem, como interpretam essa reviravolta na família toda e na vidinha tão frágil deles.
Eles são nossa maior força. A vontade de ver um filho crescer, se desenvolver e aprender com esse mundão afora é maior que tudo, e o amor que nutrimos nesse cordão infinito é o que  dá razão  e sentido para levantarmos para encarar mais uma cirurgia, mais um tratamento, milhões de exames e consultas médicas . Acreditem, a cura está bem aí do seu lado, dentro de um saquinho de amor.

Após a primeira cirurgia, fui à Endocrinologista levar o exame  anatomopatológico para análise e saí de lá arrasada. “O seu tumor é raro, teve margem positiva (quando restam  micro células cancerígenas), e você vai iniciar com um tratamento de quimioterapia oral que irá durar em torno de 5 anos e 35 sessões de radioterapia. Fui  para o Hospital das Clínicas (uma história de sofrimento à parte) e lá fui recebida pelos melhores  médicos que  já vi na vida. Então comecei com a medicação um mês e meio depois da primeira cirurgia. Um remédio que causa diversas reações, diariamente. Apesar de tudo, até voltei a fazer alguns trabalhos fotográficos. Na sequência, vieram as sessões diárias de rádio. Indescritível os sintomas de enjoo, fadiga, desânimo, falta de apetite, entre outros. Já não dava mais para trabalhar. Mas era minha vida que estava em jogo, então me empenhei em fazer tudo direitinho, por mais penoso que fosse.
Em novembro do mesmo ano (2012), pouco tempo depois de terminado o tratamento de radioterapia, comecei a sentir fortes dores na virilha, que estavam me impossibilitando de andar direito, então borá lá pro médico. Metástase óssea! O que significa dizer que haviam focos secundários do câncer nos meus ossos. Pela terceira vez meu mundo desabou, e senti os dias contados novamente.

Minha segunda e terceira cirurgias

O foco maior, que causava a dor, estava no fêmur e o tratamento era cirúrgico. Fiquei quatorze dias no hospital, duas cirurgias complicadíssimas num intervalo de 48 horas, e dor, muita dor, daquelas que você nunca imagina sentir sabe? Pois é, era final de ano e a Sofia tinha apresentação de dança na escola, fiz questão que ela fosse. Pedi para gravarem. No dia da apresentação a dor de não estar lá com ela foi infinitamente maior do que a dor insuportável das cirurgias. Chorei pra valer. Mas feliz por ela estar participando (ela adora dançar!). De repente, de surpresa, uma batida na porta do quarto e ela entra com a roupa da dança. Entrou, subiu na cama, me abraçou forte e contou o como foi  legal a apresentação! Quis ver meu dodói e deitar ao meu lado naquela cama fria e impessoal do Hospital. Quanta felicidade e alegria senti naquele momento, impossível descrever.

Visita surpresa da Sofia, ainda com a roupinha da dança
Visita surpresa da Sofia, ainda com a roupinha da dança. Momento especial.

Assim essa pequena vem me ajudando a encarar o câncer de frente, mostrando o rosto e o coração, posso dizer que vale a pena entender a importância de sermos Mães, Mães que têm que passar valores de coragem, de como a vida não é fácil e de como é importante lutarmos para conseguirmos atingir nossos objetivos. Nos dias de hoje, devido à correria, acabamos por priorizar  o trabalho e as tarefas diárias e cuidar dos filhos se tornou algo mais “acelerado”, com uma qualidade aquém do que eles merecem. Hoje, a qualidade do tempo com a Sofia é prioridade, sempre tenho tempo para aquele banho demorado juntas, para as brincadeiras (que por vezes me deixam esgotada), para a saída da escola com uma pipoca, para assistir a aula de natação e bater palma a cada novo mergulho.

Desejo a todas as Mães que não passem por nada parecido, que dediquem mais tempo de qualidade aos seus filhos, e desejo com todas as minhas forças que aquelas que estão  passando por esse problema se apeguem nesses pedacinhos de gente que deixam nossa vida colorida e tiram o preto e branco que uma doença grave traz em nossos corações.
Força, Fé e Coragem a todas nós.
Até o próximo post.
Beijos.

Sobre Luciana Bernal

Luciana Bernal é mãe da Sofia de 4 anos, esposa e fotógrafa especializada em gestantes e crianças. Descobriu em 2012 que está com um câncer raro, uma doença que lhe trouxe ainda mais vontade de viver e aproveitar cada momento com sua família e amigos, além de registrar um lado mais sensível e emocionante em seus trabalhos fotográficos.

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Vida

Luciana Bernal, uma mãe que enfrenta o câncer, neste post festeja a vida com a chegada do Vitor, filho de um casal de amigos.

29 comentários

  1. Tânia Regina Zavata Catalano

    Luciana, você já é uma vencedora por encarar os fatos desta maneira. Tenho um sobrinho de 23 anos que há um ano e meio está em tratamento, e o perfil dele é como o seu…”GUERREIROS”! Quero agradecer a ti por iluminar nossas almas de mães com seu relato. Beijos recheados de afeto. Seja abençoada até que DEUS envelheça!

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