Continuando nosso tema de cuidados com a criança diabética, vamos falar neste texto de algo que ainda é um certo tabu no tratamento do diabetes, porém que nos últimos anos vem ganhando destaque e realmente se consolidando como uma ótima opção de tratamento para aqueles diabéticos que necessitam do uso de insulina: a bomba de insulina, ou mais corretamente, sistema de infusão contínua de insulina.
Como a maioria das crianças e adolescentes com diabetes apresentam diabetes tipo 1, necessitam de terapia de reposição de insulina desde o diagnóstico. Atualmente existem insulinas modernas com tempos de ação bastante conhecidos, como a insulina glargina, que não tem pico e é capaz de agir por 24 horas e as insulinas ultrarrápidas que tem pico de ação 30 a 60 minutos após a aplicação.
Com a utilização destes tipos de insulina é possível realizar um tratamento intensivo do diabetes, simulando de fato a função do pâncreas normal. Para isso usamos uma insulina de ação longa sem pico (glargina) para fazer um basal e utilizamos insulina ultrarrápida (lispro) para os bolus alimentares.
Este esquema de insulinização é realmente bom, principalmente quando o paciente sabe bem contar carboidratos e não tem preguiça e nem vergonha de se aplicar vários bolus de insulina ultrarrápida no decorrer do dia. Porém, para um bom controle do diabetes são necessárias várias aplicações durante o dia. Somando-se também as picadas para os exames de ponta de dedo, a criança leva em média 8 picadas por dia. Além disso, as canetas de insulina variam de uma em uma unidade ou de meia em meia unidade e, por muitas vezes, o paciente precisa arredondar a dose da insulina, hora aplicando mais do que deveria, hora aplicando menos. Isso facilita a ocorrência de hipo ou hiperglicemias.
Pontos positivos da bomba de insulina
Ao passar a utilizar uma bomba de insulina, como ela faz o basal e os bolus utilizando o mesmo tipo de insulina que é aplicada através de um cateter que é trocado a cada 3 dias, o paciente passa a necessitar de apenas uma picada a cada 3 dias para receber insulina, ou seja, conseguimos reduzir drasticamente o número de picadas na criança.
Além disso, a bomba é capaz de infundir doses muito pequenas de insulina, assim não é necessário arredondar as doses e o tratamento fica muito mais individualizado e preciso. O paciente não precisa ficar fazendo contas todas as vezes que vai comer, pois as contas são feitas automaticamente pela bomba, facilitando a vida do diabético.
Ainda mais, algumas bombas também apresentam um sistema de monitorização continua da glicemia do subcutâneo, o que facilita muito o controle do diabetes. Outras apresentam um sistema integrado do aparelho de ponta de dedo com a bomba, podendo dar os comandos para bomba através de um controle remoto, tornando o tratamento muito discreto.
Pontos negativos da bomba
Porém nem tudo são flores. Os pacientes que usam bomba precisam se adaptar a viverem ligados a um aparelho. Hoje em dias as bombas são muito pequenas e discretas (menores que um telefone celular). Os cateteres e cânulas são finíssimos, por isso, é possível utilizar bomba sem que ninguém perceba. Mas o paciente precisa ficar conectado à bomba quase que as 24 horas do dia, o que para alguns é muito difícil de aceitar. As meninas adolescentes são as que tem mais dificuldade de adaptação.
A bomba precisa de cuidados como ter sempre a mão pilhas reservas para trocar, os cateteres podem se dobrar na aplicação, havendo a necessidade de trocas, durante uma atividade física o adesivo do cateter pode descolar ou a cânula pode ser puxada. Porém isso são coisas muito raras de acontecer e basta se adaptar a esses inconvenientes e saber preveni-los e remedia-los.
Considerações gerais
Para aproveitar todo o potencial que uma bomba pode oferecer, o paciente e sua família, no caso das crianças, devem saber contar bem carboidratos e, na minha opinião, já devem ter passado por um tempo de experiência no esquema basal-bolus, pois a bomba usa esses mesmos princípios no seu funcionamento. Por isso eu digo com certeza que quem domina bem o esquema basal-bolus vai dominar bem a bomba.
O preço da bomba ainda é um pouco caro infelizmente e os descartáveis (cateteres, cânulas, reservatórios) também são. Porém, para aqueles pacientes cujo controle do diabetes está muito difícil, com muitas oscilações mesmo com esquema basal-bolus, podemos pedir judicialmente a bomba e todo material descartável.
Pacientes de todas as idades que se tratam com insulina podem usar bombas, desde bebês a idosos, pois o controle do diabetes fica mais estável, desde que o paciente ou sua família saibam manusear a bomba e o façam corretamente.
As empresas que fabricam e vendem as bombas de insulina se dispõem a realizar o que chamamos de test drive. Ou seja o paciente fica 1 mês com a bomba e com toda a supervisão dos educadores para poder sentir de fato o que é o tratamento com bomba. O custo disso é mínimo ou nenhum dependendo do caso.
Experiência pessoal e dicas
Particularmente eu acho muito interessante o tratamento com bomba de insulina, principalmente para criança que precisam de doses muito precisas de insulina, as quais não são possíveis utilizando as canetas, além do fato de diminuir sensivelmente o número de picadas. Porém também sei que muitos pacientes não se adaptarão a esse aparelhinho.
Por fim deixo a DICA: se você não está feliz com o controle do seus diabetes, apesar de se dedicar razoavelmente para isso, converse com seu médico e busque novas opções. Contar carboidratos e fazer esquema basal-bolus é muito legal e poder conhecer e experimentar uma bomba de insulina é muitíssimo interessante e com certeza muito mais fácil do que você imagina. Atualmente as empresas atuam em quase todo o Brasil e dão total assistência ao paciente. Vamos lá amigos docinhos, podemos ter uma vida bem legal, produtiva e emocionante com diabetes.
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