Como os pais e a escola podem ajudar desenvolvimento da linguagem e fala da criança

Desenvolvimento infantil – Linguagem e fala

Como os pais e a escola podem ajudar no processo desse desenvolvimento

A chegada de um bebê na família é sempre motivo de alegria. Um sorriso, o balbucio, as primeiras palavras com significado, todo o seu desenvolvimento é comemorado. Cada uma destas conquistas é um indicador de como está ocorrendo o desenvolvimento da fala e da linguagem dos filhos. Mas quando algo sai do padrão esperado, é necessário procurar ajuda de um profissional.

linguagem e fala
Foto: Reprodução www.blogcdn.com

Mas qual a diferença entre linguagem e fala?

A maioria dos pais chega no consultório com essa dúvida. É normal porque poucas pessoas sabem diferenciar a linguagem da fala.  A linguagem é o primeiro passo para a fala, é tudo o que envolve conceito das coisas, que transmite alguma informação ao interlocutor: nomes, funções, cores, formas. Ela é a base da comunicação, que pode ser verbal ou não verbal. A fala nada mais é do que movimentos articulatórios combinados, que produzem sons com significado na língua materna. Deu pra entender? Ou só um pouquinho? É um pouco confuso mesmo.

 

Mas linguagem e fala não são sinônimos, tanto que muito antes do bebê emitir suas primeiras palavras (fala), ele já é capaz de utilizar-se de codificação (linguagem) para se relacionar com o meio e seus familiares. O desenvolvimento da linguagem e da fala não precisam ser considerados separadamente, porque um tem muita relação com o outro.

 

Desenvolvimento da Linguagem

Ainda que as pessoas apresentem diferenças, é possível prever o que ocorre em cada etapa de aquisição da linguagem por faixa etária e os fatores que podem influenciar o desenvolvimento da linguagem infantil.

 0 – 12 meses

Características o choro é o principal meio de comunicação, com o passar dos meses, surgem os sons guturais. Com seis meses, o bebê já se acostuma com a voz familiar e começa a procurar a fonte dos sons. Com maior controle motor, os sons vão sendo reproduzidos ou para ouvir a própria voz ou para obter reações daqueles que estão a sua volta, iniciam consonantizações: “p”, “b, “m”, “g” e “k” e silabações: “gugugaga”, “dadada”, reações emocionais ou de interesse como choro, risos, e gritinhos, conforme o que ouve ou vê a sua volta, observa os objetos e acontecimentos do ambiente, passa a falar as primeiras palavras e a usar mudanças de entonação vocal.

O que fazer?

Converse durante o banho, a alimentação e as trocas, fale o que está fazendo e nomeie as partes do corpo para o seu bebê. Brinquedos que emitem sons ou que brilhem são de grande interesse da criança. Busque estar sempre no campo de visão do bebê, use e abuse de entonações vocais e emissão de sons de objetos e animais, aproveite para trabalhar vocabulários.

O que evitar?

Evite se antecipar: é comum ao menor gesto do bebê o adulto já atender ao pedido rapidamente “adivinhando”. O bebê precisa começar a se esforçar para se fazer entender.

Atenção:

Se o bebê não reage a sons, não sorri, não estabelece contato visual.

 

1 – 2 anos

Características começa a compreender palavras com sentido abstrato (emoções, “obrigado”, “por favor”, “espera”), reage as situações chegando até a simular sentimentos para conseguir o que quer. Compreende o que as pessoas esperam dela pelo tom de voz e expressão corporal e facial. No início, pode usar de 20 a 30 palavras e as repete, dando início à formação de frases simples, compreende mais de 50 palavras e identifica objetos comuns e partes do corpo, usa onomatopeias e imita sons de objetos, faz variação na entonação vocal, na postura corporal e expressão facial de acordo com o contexto. Próximo do 2º ano, apresenta um vocabulário de cerca de 100 palavras, formando frases com 2 ou 3 delas. A fala, na maior parte das vezes, é ininteligível, difícil de entender, passa a usar a oralidade não somente para pedir ou nomear, mas também para compartilhar interesses. Tenta cantar quando ouve uma música que gosta. Demonstra conhecer alguns conceitos de tamanho, distância, cores e formas. Compreende ordens com dois comandos, por exemplo: Coloque o copo na mesa;” “Pegue o brinquedo na estante”.

O que fazer?

Rodas de leitura descrevendo as imagens do livro: expresse emoções com os personagens, faça suposições sobre o que pode acontecer a seguir, compartilhe interesses por características do local em que os personagens estão e das roupas que usam. Com a música cante junto, faça coreografias que remetam a palavras que estão sendo cantadas. Use a contagem para regular a espera (um, dois, três e já). Dê repertório de palavras para a criança, nomeando objetos, ações e situações a sua volta. Use uma fala que seja clara e simples para a criança utilizar como modelo.

O que evitar?

Se antecipar quando a criança quer comunicar algo. Uso de chupeta e mamadeira podem trazer problemas, como alterações na arcada dentária ou projeção da língua ao falar.

Atenção:

Se a criança não reage a estímulos, não usa palavras isoladas, não está ampliando o vocabulário.

 

2– 3 anos

Características usa cerca de 500 palavras. Estrutura frases simples. Pode apresentar uma gagueira natural – disfluência fisiológica. Aos poucos suas frases vão ficando maiores, agregando o uso de artigos, verbos, preposições, plurais e verbos auxiliares, inicialmente de forma assistemática e posteriormente sistemática. Apresenta um bom conhecimento de verbos, respondendo adequadamente quando é solicitado a realizar diversas ações (comer, andar, correr, pegar) em diferentes contextos. Tenta reproduzir em objetos ritmos de sons e músicas. Conhece diversas cores.

O que fazer?

Repita o que ela diz indicando que você entendeu. Mantenha uma conversa por mais tempo do que o habitual, para que a criança tenha cada vez mais contato com discursos longos e complexos. Durante as leituras, faça perguntas para criança sobre o que aconteceu anteriormente e suposições sobre o que poderá ocorrer nas próximas páginas; use entonação vocal diferente para cada personagem.

O que evitar?

Em momentos de gagueira, evite: completar frases, apressar a criança, mostrando impaciência. Peça para que se acalme e respire antes de falar.

Atenção Se a criança: não compreende instruções simples. Tem vocabulário reduzido. Apresenta alguma regressão.

 

3 – 4 anos

Características usa cerca de 800 palavras. Demonstra conhecer conceitos: duro, mole, macio. Começa a ter diálogos e pensamentos que envolvam raciocínios de tempo e a fazer argumentações. Entende e tenta replicar ironias e piadas. Inicia discurso em todos os contextos: para solicitar, mostrar e contar algo ou apenas para interação social.

O que fazer?

A criança já inventa histórias, compreende regras e jogos simples. Aproveite para estimular essa interação e invista nas brincadeiras de faz de conta. Continue estimulando a conversação, servindo de modelo.

O que evitar?

Evite sempre que possível fazer outras atividades enquanto fala com a criança, encorajando que ela faça contato visual ao conversar. A presença de fala infantilizada, gagueira funcional e dificuldades em estruturar discursos ainda podem estar sendo trabalhadas pela criança e não devem ser reprimidas, é preciso ter paciência!

Atenção Se a criança: utiliza discursos que ninguém compreende. Usa mais gestos do que palavras. Não adquiriu ainda todos os fonemas ou realiza trocas de sons na fala.

 

Acima de 4 anos

Características com vocabulário ampliado, a criança tem fala adequada e correta, sendo capaz de pronunciar melhor as palavras e relacioná-las bem. Nesta fase, gosta de inventar histórias, é capaz de descrever melhor acontecimentos passados e usa a linguagem para o raciocínio. Compreende mais de 2,5 mil palavras, conhece opostos e já mantém mais a atenção.

O que fazer?

Converse sobre conceitos abstratos (duro, mole). Incentive a fazer perguntas e fornecer respostas. Incentive leitura e escrita, O uso de conceitos como sinonímia (palavras que apresentam significados iguais ou semelhantes, por exemplo: bondoso-caridoso) e antonímia (palavras que apresentam significados diferente, contrários, por exemplo: bondoso– maldoso).

O que evitar?

Não apresse a fala da criança. Não imite o falar errado. Não repreenda quando a criança falar, ler ou escrever errado.

Atenção Se a criança: não consegue descrever acontecimentos troca sons na fala, não articula corretamente ou não faz perguntas não reconhece letras, usa frases sem coerência ou lógica, tem algum tipo de gagueira.

 

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Sobre Raquel Luzardo

Fonoaudióloga, especialista em linguagem, diretora da Clínica FONOterapia, atua há mais de 15 anos em atendimento infantil, orientação familiar e assessoria escolar. Casada com o Yan e mãe do Gabriel, acredita que a comunicação é a ferramenta para as relações acontecerem de forma plena e feliz!

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